Champanhe


(foto: Leda Petit, por Jocelen Janon)




O que há em ti
que atiça em mim as feras
deflagra toda saliva
e dissolve as dores
quando  passas?

O que há em ti
que enrijece o pescoço
e dobra os joelhos
mesmo ao sem-deus
que bebe em tua taça?

O que há em ti
que enlouqueceu geometrias
engendrando espaços
Desfibrilou pensamentos
liquefazendo os desejos?

O que há em ti
que reitera a insaciável sede
A ânsia pelo suor
sorvido como o melhor champanhe
na garrafa?

O que há em ti
Qual a razão dessa forma
em particular, e não outra?
Nem cristal nem vácuo nem metal:
Tramas, encaixes e relevos densos

O que há em ti
que cativa os sentidos dessa doce obsessão
prendendo ainda meus pés neste chão
enquanto o universo inteiro
se esgarça?

O que há em ti
que faz perdurar personagens de sombras e luz
na tela mais funda destes olhos?
Um filme sem fim encenado
por cada movimento teu