Entre o tédio como fórmula e o velho pé-no-saco dos tribunais

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Dois dos filmes mais comentados neste fim de ano, duas enormes perdas de tempo.

"Marriage Story", cansativo . A velha paixão americana por 'filmes de tribunal", matando qualquer possibilidade (tão alegada na época do lançamento, e com remissões diretas dentro do filme) remota do filme ser uma espécie de lembrança do incomparável "Cenas de um casamento", do Ingmar Bergman. Diferente  do filme sueco, no entanto,  que consegue  mesclar genialmente a questão existencial das relações com a linguagem do cotidiano,  o filme americano é arrastado e bastante superficial em sua proposta, quando carrega  em seu excesso de cenas de tribunal, diálogos forçados em quantidade , lotes de falas e situações improváveis, inverossímeis em qualquer relacionamento ,além de umas inserções de humor paralelas que não colam diante da tensão constante ao fundo. Válido talvez como crítica à burocracia do sistema para lidar com assuntos afetivos,  e só. Todo esse esforço desastrado transmuta uma questão existencial delicada e tantas vezes árdua em um mero conflito de leis, patrimônio e status jurídico, e tudo isso carregado no roteiro pela referência muito presente do sistema legal americano que rege os casamentos civis, uma confusão burocrática  dos infernos, e a princípio sem qualquer interesse aos não-nativos, porque lá na terra dos gringos, diferentemente do Brasil e da maioria do mundo ocidental, existe praticamente uma legislação específica sobre casamento para cada estado.

Um porre, que causa surpresa diante de bons trabalhos anteriores do diretor como "Francis Ha", "Enquanto somos jovens", "Os Meyerowitz" e outros, além de abafar completamente a performance dramática dos dois excelentes atores, Scarlett Johansson e Adam Driver, que apesar de tudo, ainda atuam muito bem em difíceis papéis excessivamente carregados de falas. São o tipo de personagens que você, do lado de cá da tela, se pergunta o tempo todo quanto tempo e esforço de disciplina individual deve ter sido necessário para decorar todas aquelas insuportavelmente longas falas? A prova de que verborragia não necessariamente acrescenta uma maior dramaticidade a qualquer personagem.
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"Um dia de chuva em Nova York". A irritação típica de quando você vê uma fórmula infinitamente repetida, repleta de lugar-comum até no ar que se respira, e sabe que isso tudo veio de um dos maiores diretores de cinema que você respeita ,e do qual conhece todo o trabalho. Impressionante a coragem de Woody Allen em lançar um filme-nada, sem qualquer virtude. Personagens insossos, história fraca e previsível, que mais parece feita de encomenda pra vender pacote turístico e  gerar cartões-postais para N York nesta época de natal. Uma crônica de encomenda para vender a imagem (bastante irreal , aliás) da cidade nos tempos de hoje. Em retrospectiva, eu nunca tinha visto personagens tão superficiais e perdidos como esses, mesmo usando e abusando dos temas de fundo tão caros ao diretor. A velha overdose de Jazz, citações em cachoeira, pitadas de características do temperamento excêntrico e midiático de alguns artistas famosos, e o recorrente complexo herdado das relações parentais com um mix de nostalgia das rupturas familiares etc. Não vale nem a pipoca, assim como último do Scorsese,  "O irlandês", na prática uma quase-refilmagem de "Os bons companheiros ", que há trinta anos já era o mais sanguinário filme de máfia, brutal a  ponto de fazer  um Tarantino chorar feito criança e um "Poderoso chefão " parecer censura livre.

Uma dica: Se ainda não viu,   assista Coringa,  Bacurau, Dolemite, Dor e Glória,  Parasita, Elton John , Uma vida Invisível,  Ad Astra, Ártico, este ano também tem muita coisa boa por ai...