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Mostrando postagens de março, 2019

Sintomas

Sintoma de tempo é cinza de carne é  corpo de visão é riso de doce é ácido de noite é dia Não existem pecados sob as sombras da utopia Sintoma de poesia é o espírito desembestado a tomar posse do mundo agarrando-o pelos olhos pelos cabelos          pela pele               pelo cheiro                        pela vulva Torto, caótico, profundo alquebrado, injusto, trágico o mundo não me cai como uma luva segue mágico          segue sendo mundo (O único ) Sintoma de vida é  saber sentir a tal intensidade e assumir a  liberdade que me circunda sendo sincero e aberto comigo absorver essa energia que me molha sem imaginar que as coisas sempre giram em torno do meu próprio umbigo

Aluar

Adensando a madeira validando a colheita levantando as marés talhando o sangue orientando as formigas servindo a guia antecipando os partos enchendo os cabelos cevando  demônios incitando os lobos granulando a terra regendo a relva alimentando raízes tecendo o sumo torcendo os conceitos melhorando a saliva piorando o sono tresloucando o tato justificando os loucos possuindo a noite desobrigando lanternas incentivando fogueiras obsedando as estrelas maturando a seiva riscando a noite protelando o dia

Meu anjo franzino

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para Bernardo Boldrini (Be) Entre fotos e notícias depois de tanto tempo De início, nos burburinhos (todo mundo sabia, restava provar) Os rastros de uma infância abandonada algo por dentro apontava o mapa do destino mortal De pé, depositado na curta cova vertical que te destinaram em tua última viagem à beira de um comovido riacho Menino  franzino, com frio e sozinho como em tantos outros momentos do teu curto caminho por este vale de lágrimas O vale por onde seguidamente (e sem  saber a razão) estiveste mendigando afeto mendigando comida mendigando um teto aos próprios pais mesmo tendo nascido em berço de ouro Não adiantou a homenagem do dia das mães Não adiantou o teatrinho do dia dos pais Pois o monstro da ganância quando vige quer sempre mais, sempre mais A mãe de verdade,  tua única proteção também ceifada assim, de súbito entre tantas dúvidas Meu menino franzino essa tua incomensurável força interior espalhada por dezenas de fotos

Escrever

Como busca de beleza em um mundo cruel, que faz qualquer estética parecer fútil? Como realização diante de uma vida em geral tão restrita em que grumos de capital, ou da ausência dele grumos de saúde mental ou da ausência dela continuam fazendo de delírios a única realidade possível? Como protesto e revolta, energias tantas vezes vãs diante dos portais reiteradamente fortalecidos pelo sumário das crenças injustificadas e suas tolices pela estupidez involuntária e certeira a alvejar multidões? Como busca de saída em um mundo de cartas marcadas onde há tanto talento, mas tantas vezes os papéis de destaque são roubados pelos piores atores representando as mais pobres peças? Escrever como puro ato de desvario , tendo em vista a insurgência diante do mais empírico desnorteamento das instituições e do esgarçamento dos valores afirmativos da vida que depõe contra os próprios indivíduos? Para testemunhar a tolerância forçada com o terror que se instila progressivo sem que nada , nenhuma

Absurdo e Caos

para Albert Em meio a tantas tragédias ainda o erro herdado de admitir os primórdios como intocado paraíso que em algum momento ruiu O remédio, a ciência, as crenças tudo é um tipo de erro planejado para se forçar a fé na vida fazendo do sentido a única razão e da razão o único sentido O erro de se imaginar o passado como bem o devir como o mal cultura e herança em nossas mãos de ocidentais por conta da nostalgia de uma infância coletiva (que nunca houve, isso é bem verdade) no princípio dos tempos onde todos se amavam e se davam as mãos por todos os cantos do planeta até o momento da queda A  verdade é, não apenas Antropofágica [porque nada há no homem de tão especial a esse respeito] mas sim um contínuo fluxo de apropriação da vida, indistintamente, por nossa raça Fagocitamos tudo ao redor como amebas ensandecidas Temos a força e nunca sabemos o que fazer com ela seguimos por equívocas veredas O erro de ainda se iludir por conceber que a vida e