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Memórias da Ilha

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Vitória é linda, esta cidade. E é muito mais bonita agora do que há vinte anos, quando a abandonei pela última vez. A vista da  capital pelo grande arco da Terceira ponte. Os navios gigantes esperando para entrar no porto. O mar refulgindo no azul verdão todos os espelhos do sol da tarde. De cima do morro, a vista de lá para cá, aquela famosa mirada de Vila Velha para Vitória, da ponta do Convento da Penha, primeira vez que também vi a capital antes de passar pela antiga ponte, bem antes de existir a "Terceira". Um olhar que vai viajando solto, leve e longo pegando desde a entrada à esquerda da baía, entrando na ilha num belo dia de sol pela ponte centenária da Florentino Avidos, deslizando os olhos suavemente à direita pela estreita beira-mar aparada pelos morros polvilhados de casas, até baixar rasante na  Ilha do Boi, junto ao mar. No caminho curto e pleno de histórias antigas, a cidade. A via portuária central da Codesa, os grandes prédios de comércio e repartições

A queda

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Há alguns arquétipos que são sempre revisitados pelo tal  inconsciente coletivo, e a queda, como um ritual de passagem, é uma das mais importantes referências. A idéia da perda abrupta de uma pretensa continuidade, a ruptura inusitada, aleatória, que pode se transformar no momento trágico de sepultamento de qualquer ente sobre o qual ela se abate. Ou, como ocorre em muitos casos, representar talvez a força exterior invasora e conflituosa que, ao contrário, o impele a buscar no fundo suas melhores energias, mergulhando num processo obscuro e sofrido de autoconhecimento revelador. Essa atividade de prospecção poderá ainda trazer a lume aquilo que seria definido como sua essência-em-vida, um modo indeterminado mas escolhido de existir, transformando-o em 'outros' paulatinamente, ao conferir-lhe uma alteridade absorvida das diversas experiências a que se propõe, e das quais até então ele próprio não se julgava capaz. Restará uma "unidade", ao final, no bojo de tais e

Os mortos sem geladeira

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a música agora é outra, repleta de dissonâncias porque na impávida  vitrine que albergava todas as ostentações em imaculados painéis de neon o tijolo cru da realidade partiu a cara da unanimidade em mil estilhaços ensinando a quem não sabia ler o novo alfabeto o peito aberto, em sangue e ossos legado à humanidade emoldurando uma outra imagem (pessoas acorrentadas e de joelhos) em novos e fragmentados espelhos e é  nas grandes cidades quando cessa todo som estanca-se as molas do sistema e suas engrenagens que finalmente se ouve o que ninguém mais ouvia uma antiga melodia tocada em nova balada na noite calada, a bala direcionada encomendada, pensada e bem calibrada desintegrando as periferias desmemoriando suas primas perdidas que sempre guiaram nossos dias a indústria da morte impedida de completar seu ciclo mata-ensacola-refrigera-recicla mata-ensacola-refrigera-recicla mata-ensacola-refrigera-recicla o matadouro  incansável e úmido anônimos ensaco
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Atrovoam presságios da guerra. Generais e bombas a postos. Pedaços de gente voando pelos ares. Crianças, velhos, mulheres... Ataca-se o homem, mata-se sua família, Infertilizam suas terras para que não mais produza A humanidade é o que resta sob os escombros. E mesmo assim, contra tudo Sempre haverá esperança Porque o homem é um animal que sonha Havendo por cálculo ou acidente a exacerbação incontida de todos os instintos primais De morte, de vida, de gozo sobre as ruínas E sabendo que ser homem significa, simultaneamente, ser portador de uma tragédia e uma boa-nova Haverá sempre aqueles que saberão rir de si mesmos e, superando o que há de ingênuo e perigoso na simples  natureza animal, persistirão na crença necessária de que o homem deve ser algo além E que mesmo que não se possa defini-lo ou sequer tocá-lo com palavras, a potencialização dos seus verdadeiros dons sempre será uma missão a nortear as nossas melhores expectativas sobre o mundo Quan

O homem do lago

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*Ensaio sobre "Walden", de H.D. Thoreau "Eu fui à floresta porque queria viver deliberadamente... Queria viver profundamente, e sugar toda a essência da vida. Acabar com tudo que não fosse vida. Para que, quando a minha morte chegasse, eu não descobrisse que não vivi." -------------- (H.D. Thoreau) 1)Não existe releitura, porque toda leitura é sempre a primeira   Sendo honestos por virtude e por necessidade de poupar tempo, confessemos logo a verdade: não existem releituras, nem de livros nem da própria vida, porque toda leitura, como cada vivência, é sempre a  primeira para o que nós somos agora Aquela escultura ou pintura que admiramos numa exposição, num bar ou na casa de um amigo; aquela música que nos encantou desde o primeiro momento em que a ouvimos num passado recente ou remoto; o perfume daquela mulher numa festa ou na antessala de um consultório médico; o impacto fulminante de vida que nos tocou pela contemplação de uma dada paisagem

2016 numa perspectiva cultural no apagar das luzes

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Se 2016, como toda pessoa de bom senso já percebeu, foi um desastre completo na área política, felizmente não ocorreu o mesmo quanto à arte e à cultura, de modo geral, que entre apertos e muita força de vontade, continua brilhando em nossa sofrida terra. Tanto em terras capixabas quanto na Terra Brasilis, há muita coisa boa. Algumas novas, porque recém-lançadas ou novas porque eu só tive a oportunidade de conhece-las agora. Outras clássicas, de conhecimento geral, mas que sem dúvida merecem registro pela sua qualidade , e que fizeram o ano da gente mais rico. Cito algumas abaixo, sem pretensão alguma de fazer crítica cultural, apenas como compartilhamento de gosto pessoal. FILMES: “Cinco Graças” e “O filho de Saul” . No primeiro, a beleza pujante do olhar renovado do cinema “do lado de lá” do mundo, exercendo seu fascínio sobre nossos encantados olhos. Crítica e denúncia sobre a opressão feminina no reino dos aiatolás. No segundo, o mais terrível filme já realizado sobre a s