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Mostrando postagens de julho, 2010

O silêncio

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Há poesia demais em não falar nada um romance não escrito quando penso em você contos que dormem intactos sob o travesseiro crônicas de uma vida que anda de lado, sem porquês. Se eu não nascesse hoje, tornaria a morrer sem revelar esse mundo sem participar o liame das coisas, entre o sólido e o abstrato mais profundo, aquele lugar onde tudo o que há se revela na história do mínimo, enquanto se perdem, assim, os seres recém surgidos do limbo, antes de inaugurarem qualquer estado de consciência. Àtomos e palavras, urdidas na calada da noite inacabada, inocências... Neste filme que passa bem diante dos meus olhos vejo cores, o campo, bichos, flores e mato alto, então estou integrado nesta tela impressionista, e sou a própria imagem do que quero ser: sou campo, sou bicho, flores e mato alto repleto de pontos de sombra e luz, sob cuja fragmentação espelhada possibilito a visão, enquanto imponho meu olhar, esse tirano trocando a realidade pela impressão. Sou também o pintor que tudo observ

Vida Minha

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*Por Marcos Silva Oliveira A cidade emitia sinais de vida no cotidiano. Recordo bem o texto e a mensagem. A angústia não era dor definível e não doía tanto quanto agora. Nós estávamos para o que der e vier - o possível. O improvisar e as tentativas de reviver dia a dia o lúdico: eram presentes. A fotografia do instante. Estão nestes versos que encontrei ao remexer em papéis antigos. O pardo das luzes passadas. A metáfora daqueles instantes: momentos de 1984. Ao largo da paisagem Do que posso vislumbrar As luzes e a amplitude Da cidade entre as trevas. Parques de sonhos... De luzes amarelas O carro estacionado A cancela de madeira Atrás os penhascos Da minha angústia... A noite perigosa A cidade baça Ameaçada das trevas: A missão salvá-la... A cura. Nesta noite silenciosa Temos medo. Muito medo. Os postes de luz Os cabos de telefone, 1984, a cidade resiste. Eu devo salvá-la... A missão para a salva-guardar. Oprimido pela noite Decido a proteger: A cidade me precisa... Os penhascos e a

carpe diem

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Então estou eu aqui, mudo, nesta sala E percebo que quase tudo que me ocorre, agora, Vem sempre de um determinado passado, Um lugar no tempo Que julgava deixado para trás. Esse tempo, que na verdade é busca Que não sai de mim, que me integra, Que fala por mim e me define pelas memórias Tempo perdido esse, que não me larga mais... Memórias seletivas e falhas, por sinal, Lacunas que então eu não enxergava Lacunas que nunca pensamos existirem E que foram crescendo e tecendo, aos poucos, Por paradoxo, Uma improvável textura em torno, Costurando-nos como retalhos ao avesso das coisas Com essas linhas invisíveis e duras. Crianças brincando num jardim. Nós, que éramos tão poderosos e pensávamos Poder ocupar todos os espaços, Pulsar todas as sensações possíveis Com um violão e uma garrafa embaixo do braço, Entre tantos risos, beijos e abraços E aquele cigarro eternamente aceso numa das mãos... Uma eterna e infantil curiosidade diante das coisas, Fumaças filosofantes de deslumbrantes auroras Na

The fool on the hill

(**sobre música de Lennon e McCartney) Isolar-se no topo da montanha entre paus, pássaros e pedras defesa e fuga necessária, junto aos ventos para este tolo que agora descansa e respira, pela primeira vez depois de muitas eras Lutando contra tudo e todos buscando nada mais do que o que lhe parecia verdadeiro com a coragem suficiente para lançar-se a novos projetos quando percebia ter errado o alvo quando sabia ser toda verdade relatividade, nada mais que um ponto de mirada sobre o mundo Missão de tolo essa, na Terra um tolo isolado numa montanha tocando seu violão relegado ao seu próprio mundo longe, agora, da solidão encontrando-se a si mesmo sempre a maior descoberta no silêncio absoluto entre os ventos cansado de andar contra tudo e todos buscando a força nos etéreos elementos quando nada na terra parecia suportar ou compreender sua necessidade de elevação Ver o sol se pôr é seu único consolo ver o mundo girar enquanto toca sua desafinada viola e

Esse ofício do verso

Nesse ofício do verso nenhum parto vinga sem dor a escrita é sempre uma vitória sobre si esteja onde estiver o escritor Não há lugar privilegiado para o pensamento idéias são coisas que surgem a qualquer tempo, num insight, num devaneio, num tropeçar afastados ou registrados os infortúnios quando a palavra nasce no papel: labirintos possíveis para a vida humana Muitas noites mal dormidas essa eterna inquietação às vezes superada, pela manhã nestes caminhos sobre a folha neste peculiar nascer do sol A busca do universal que não existe compõe-se a escrita de temas, estórias e instante harmonia dinâmica e geografia flutuante que mescla impulsos, sensações, vivências com sangue, trágédia e dor mas também onde o lúdico ganha espaço assim como o amor Alegrias e tristezas, pessoas e despessoas e o mundo lá fora, sempre impassível variando mesmo é nossa percepção do mundo nossas vivências exageradas ou contidas nunca desprezadas, tornadas mais vivas imortalizadas no legado, na obra na contempl