Brincando de Deus

Então, o que restou ao homem quando soube da morte de Deus?
Todo o seu teatro, toda sua representação, a maior delas,
ruindo assim, por terra, e a nova vida tentando renascer
sem ícones, ou quem sabe, à procura de novos...

A ciência, que há muito espreitava, foi enfim chamada
a ocupar o enorme espaço vazio, o vácuo representado
pela multiplicidade de perguntas sem respostas
que se acumulavam a cada dia.
O vácuo representado por milhares de vidas,
assim nascidas, como tudo a que a natureza dá à luz,
sem sentido humano, a não ser o inventado.

E ainda hoje esse saber tenta convencer pela atuação
resumindo o nosso discurso, não o único
mas o mais reverenciado
no palco de horrores a que todos assistimos, mudos
a nova era se desenhando, sem o mal e sem o bem,
apenas frias máquinas de pensar ausentes de cores
exercendo seu mister a quarenta graus abaixo de zero.

A religião, como coletivas amostras esparsas de um discurso vazio
que há muito se perpetuava sem porquês
refugou seu amplo domínio sobre os seres pensantes
sentindo o peso do golpe ...
não morreu, de fato _ metamorfoseou-se.
Mas sua essência se perdeu para não mais.
Perdeu-se o valioso sentido, primitivo, tribal
e catártico da reza,
Trocado por conveniências.

Enquanto isso, o que realmente importa
é que o espírito sobrevoa todos os tempos
paira sobre todas essas coisas
dá risada de umas , chora sobre outras, ajoelha-se
de dor pelo pequeno de ser humano.

Surpreende-se, às vezes, quando percebe nesse exercício infinito
que o humano não se conjuga para ser
mas sim para estar , e estar  humano é somente exercer uma forma
concentrando a energia num ponto, não necessariamente mais sublime
do que todas as outras formas possíveis
_eis que toda vida é sempre sublime_
e traz em si a beleza de poder pulsar

O espírito  sobretudo voa, está sempre em movimento
enquanto acumula experiências
e se torna cada vez maior.