seguindo o trem

sigo matando
sigo morrendo
cada dia um pouco
e no espaço em que lhe escrevo esta carta
não há consolo não há reparação
que possa
desencontrar o destino certo da solidão
tudo o que eu tinha
era somente sua vaga lembrança
entrecortada entre garrafas vazias
entreachada naqueles rascunhos  no chão amassados
de tocos de lápis mal lapidados, papéis mudos
exterminadas plantas
antes de vingada a semente
sigo na linha desse trem, tropeçando enquanto penso
se ainda posso alcançá-lo
nado contra as correntes
que nos destinam outras margens
que nos desviam de nossos reais propósitos
que nos fazem pensar
que tudo na vida é igual
e que por nada vale a pena lutar
de verdade
cuspam-se as implicações dos cíclicos pensamentos
não há que se digerir tudo o que se come, afinal