Caminho de praia

Manhã de julho. Sol frio que cega pelo brilho. A volta do caminho pisado, da longa caminhada pela praia, sal e  sol nas costas de uma manhã qualquer de inverno. Pés afundando sem destino. As folhas das folhas de verde, à beira da estrada, tornadas amarelo. Aquelas que ainda persistem na falta d'água, nesta seca que castiga fora de época, nos meados deste  inverno.

Cactus imponentes, Guriris fortes nessa areia que desanima raízes, vento cortante e rude chicoteando pernas incautas com garras  de areia. Nada inspira otimismo quando faz frio e o vento desfolha sadicamente as últimas castanheiras da estação. O sol não se impõe, de propósito. Apenas afasta-se orgulhosamente e deixa os humanos às próprias nuvens.

Neste caminho de praia , em meio a tanto cinza, a única cor é o amarelo daquela pequena flor, à beira da estrada. Parece apenas mais uma flor comum, como tantas outras. Não sei o nome, não sei a espécie, nem mesmo o apelido. E eu que achava que sabia tudo. Sua foto não está no google nem consigo vê-la em qualquer site da internet. Não conheço nenhum botânico, e os jardineiros devem estar curtindo em paz seu feriado. Então, por que diabos aquela pequena flor me incomoda tanto? Nestes tempos virtuais, não estar na internet é  como não existir.

Alheia à minha presença, alheia às redes sociais, multiplica-se a pequena flor. Em arbustos maiores, mais velhos; em arbustos menores, já na segunda florada, e nestes aqui, ao alcance da minha mão, que parecem que acabaram de nascer. Arranco uma, ganância humana de possuir a beleza em mãos. De manhã mais cedo, ainda molhada de orvalho, formigas diligentes e pequenas  abelhas entorpecidas do amarelo néctar mergulham nas piscinas  de dentro, refrescam-se na única água no decorrer de meses sem chuvas. Insiste, ainda,  a flor, que brilha e ressalva seu verde-amarelo. Além de tudo, patriota, flor brasileira, esta. Estigma, anteras e pétalas  rindo-se de tudo o que não seja cor. Não há espaço que não ocupe, nesses terrenos baldios, não há beirada de cerca que resista, e o mais importante, o que se vê logo na primeira mirada: é a única flor que floresce nesta época do ano, num raio de não sei quantos quilômetros ao redor.

É uma flor qualquer, sem nome, sem graça, e igual a tantas existentes por aí, mas tem um porém: é a única que floresce durante os meses frios e secos, colorindo tudo com seu verde-amarelo neste lugar longe do mundo, aqui em Guriri.