Profissões em baixa I

* Por Adrianna Meneguelli




Cansei de ser arquiteta. Medição de rua, circunscrição de bairros, perscrutação de atalhos, suor pouco agradável. A matemática me enganou, tornou-me irracional convicta: não há lógica que subsista a tanto desencontro no espaço humano. Com profissões falsamente pragmáticas flertei desconfiada, só me faltou ser puta. A síndrome da seletividade exacerbada privou-me do prazer que poderia sorver em esporádica labuta. Melhor ser artista, fingir que desenha, que pinta, que cria coisas inovadoras...glamour da imagem, da produção só corpo fazendo a cena. Pouca profundidade, circular esporadicamente em vernissages...basta. E que não me cobrem mais nada, entender o básico já é muito difícil! Se chamarem para palestras, é só falar da última proposta ou da última idéia. É prazeroso ser egóico. E se for efêmero demais? Talvez produzir vídeos: basta comprar óculos deslocados e se fazer de inteirado. Mas é deleite acessível a poucos, aos que têm grana ou contatos... E é preciso ser exibido, ainda que para público hiper-reduzido. Retorno desproporcional ao empenho aplicado.......

..............enfado



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*Adrianna Meneguelli é Doutora em Literatura Comparada, pela UFMG.