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Mostrando postagens de fevereiro, 2014

As dores do mundo

A perfeição de Schopenhauer. Talento, caráter e coragem. Como seria possível imaginar Nietzsche ou Freud sem ele? O velho alemão que tomou o trágico de Shakespeare, a clareza argumentativa de Kant e todo o lirismo do velho Goethe, seu adorado mestre, para tornar possível a melhor compreensão da vida na contemporaneidade.

Orgulho

"O filósofo e o cavalo são os mais orgulhosos animais que vivem sob o sol" (Nietzsche). Bom, como ainda não sou completo na arte de me tornar cavalo, então tenho que tentar ser menos orgulhoso.

O sonho partido

Acordar pela manhã e perceber naquele dia incomum, que nasceu das sombras o momento exato no tempo em que a realidade foi parida precocemente do sonho, engendrando no seu ato de dar à luz uma criança dura e fria... Acordando consigo toda dor,  todo pranto e todo tipo de frustração infligindo ao corpo o corte  como uma faca a rasgar-lhe o flanco sangrando assim os elementos mágicos que habitam o mundo dos sonhos e criando a percepção de que viver  é nada mais do que simples contradição Porque o tecido do que é vivo não é contínuo e fluido mas permeado de rupturas, um tecido grosso composto de cicatrizes toscas que se sobrepõem Acolher essa criança selvagem no seu colo sem que tenha sido preparado constatar que obteve do sonho apenas um balde de água fria em pleno rosto justamente na hora em que esperava nada menor que um beijo naquele exato momento em que o sonho prometera desvelar  sua essência e Maya, convencida, tiraria os véus depois de muitas promess

Ser e Existir

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(reeditado) para Manoel de Barros De tudo o que se vê no mundo a metade existe somente na nossa cabeça                                       os olhos é que mundeiam para enxergar Isso, porque ainda nem falei de Heidegger para quem, o que existe mesmo são os humanos O restante das coisas, bichos e plantas ainda que se esforcem , nunca conseguirão pois possuem unicamente sua essência podem ser, mas estão condenados a nunca existir Esta minhoca que agora cava sob meus pés redondeando num girobolante escarafunchar do barro aqui neste terreiro de chão batido parece não concordar muito com o Filósofo assim como estas formigas que, em organizada carreira, carregam apressadamente suas folhas nas costas e seus grãos de  açúcar furtados no pote da cozinha ciência de chuva que se aproxima Acho que não preciso dizer a elas que Heidegger não estava certo

A linha

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Estilingue em punho, mira um tanto difusa. Já naquela idade, os olhos não iam bem no foco do seu destino. Alguém já suspeitara, em casa, mas os óculos estavam sendo adiados ainda um tempinho para o bem do menino. Estilingadas de mamona pontuda, um saco delas, bem verdes. Pedra, não podia. Braços doendo, pescoço doendo, olhando pra cima e desafiando a força da claridade solar há horas, mas sem acertar nenhuma, até que súbito aquele um pássaro no meio de cem outros recebe a bomba no peito, desafina o corpo para os lados e vem sobressaltando asas até bater o chão, num baque surdo. Andorinha do mar, aquelas grandes, de canto enigmático e gutural.   Surpresa! Nunca tinha acertado nenhuma, nesses anos todos de miras perdidas e muito caroço de mamona arrancado nos arbustos sofridos da rua. O júbilo de caçador bem-sucedido passara mais rápido do que um raio, e o choque foi maior do que a suposta glória. Acontece que o pássaro não morria como nos filmes. Aquele bicho ficava se debatendo,