Seppuku






A lâmina do metal mil vezes forjado
mil vezes afiado cortando ossos sem dor
a medula de encontro ao frio gélido
espalhando arte
na prata reflexiva salpicada de vermelho
enquanto escrevem a morte
no pergaminho da vida

Honra no lugar do medo
a disciplina no lugar da sorte
ganham o mundo sete samurais
e sua sede de glória corta mais que
qualquer metal

Sete espadas, sete vocações
oriundos de um tempo que não há
para um mundo que se desfaz mais rápido
do que se engendra um reles pensamento.
De que valerá, enfim, tamanho talento
no bojo de uma civilização
que solapou toda verdade?

Se na fibra da planta, o carvalho para ser bom
demorou tantas décadas
se a lâmina de sua katana destilou tantos
venenos no gume
pra quê tanta honra e tanta disciplina
eu me pergunto
num mundo que se derrete ao lume?

Melhor não seria capitular
perante o tempo
o mais forte dos senhores?
Melhor não seria abraçar o
seppuku do que ajoelhar-se
perante um inimigo cada vez mais vil?

Nada dizem , os sete samurais
seu discurso é atitude
do gesto à resposta rude
no mais puro silêncio manejam a espada
como o vento cortam o ar
sobre cabeças
num mundo onde não existem
outras narrativas possíveis
                                  nem sinceras


Verdades não são Verdade
e a popularização dos gostos
não mudou a hierarquia da força:
Para cada um aquilo que é seu
de direito

E para sentidos fracos que são sempre
amansados pelo dia
ao vento frio da noite eu recomendaria
renovar suas forças porque sua
tarefa ainda é longa

É o agir que toma a vez do sentido
e os samurais aplicam-se à luta
porque enquanto a espada corta
é que ele eventualmente surge

E da luta  surge nome para a força
enquanto a inércia conflituosa
das idéias que não se arraigam
segue descaracterizando
toda vontade de viver

Sete espadas, sete samurais
que vivem fora do seu tempo
e as katanas seguem mais
afiadas do que nunca