Ver

Suspender o juízo sobre o mundo.
Suportar o intenso barulho, o calor
e o movimento incessante das coisas
que pareciam inertes há um segundo.
Sufocar por um instante
todas as verdades
pré-concebidas.
Abraçar com o olhar
todas as coisas
que nos escapavam
mas agora saltam
e brilham e se compõem
em novas formas
novas cores
e situações
para um olhar
que reaprendeu a ver.
Surpreender finalmente
a oficina das coisas
na ação em que o ser
finalmente se desvela
não passivamente
não escravo da mente
mas um ser-em-ação
que, ao passo em que
nos permite conhecer o mundo
permite-nos ainda viver
um especial estado de encantamento
por reconhecermo-nos bem ali
no meio do  nosso próprio mundo
essa criatura indeterminada
que é o homem