Eles, o monstro paranóico


Eles chegaram
Eles sentaram
Eles estão bem à minha frente
Eles me encaram, agora,
fixamente
Na busca de um olhar furtivo
[Uma piscadela, que seja...]

Tomo meu uísque
fingindo a calma que nunca tive
Balanço minhas duas pedras de gelo,
Súbito despisto e olho...
E lá estão eles!!
A me encarar  novamente...

Acendo um cigarro
Dou uma tragada profunda
Meus olhos navegam na fumaça
Permeando algo no espaço
Que a essas alturas já se perdeu
[Despisto e olho de novo!]
Esses olhos...

Certeza: não sou forte o bastante
Fixo perdidamente o chão
Como se procurasse minha casa,
Cova da qual
Não deveria ter saído

Reconheço, finalmente,
Meu lugar é nos subterrâneos
Embaixo do soalho me sinto melhor
Suporto com segurança
O peso do mundo, pesado-de-pedra
Concreto no olhar
Sempre inquisidor

Olhos que assassinam
minha musa privacidade


Eles, o monstro,
nunca me deixam em paz
Eles, o monstro,
querem sempre saber de algo
Eles, o monstro
me deixam tenso
como um campo minado,
que ao menor toque
manda tudo pelos ares

Eles, o monstro,
parecem às vezes até saber
que não existe o mundo lá fora

Por isso nunca saem
daqui de dentro
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editado 15-08-16