Rubim

Sai daí menino,
Que jogar bola é coisa do diabo
(dizia o homem da igreja para o menino Rubim)
Larga a preguiça de ficar nessa quadra
Aproveita e pega logo a mão na enxada
Porque Deus gosta é de ver a gente trabalhar

[Rubim largava a quadra
Rubim pegava da enxada
E saía com seus nove anos de idade pra capinar
Juntava ele com seus mais amigos
O mais velho tinha onze
O mais novo tinha seis
Meninos perdidos
De sua própria infância]

Não pode jogar bola, Rubim
Não pode olhar pras meninas
Não pode falar nome feio
Nem jogar jogo nenhum

[Capinando o ermo, as mãos cheias de calos
A vida se embolando no embornal
E as rezas cada vez mais frequentes
No domingo matinal
Na terça à noite, na quinta à noite
E na sexta-feira de carnaval]


Não pode mais andar solto
Não pode deixar de sofrer
Não pode pensar sozinho
Não pode gostar de viver

O certo é aprender a morrer
Rubim, nessa casca grossa
Que se forma por dentro

É aí que habitará seu espírito
Tocaiado como bicho do mato
Esperando a hora do bote

(editado em 10-08-16)