Bullet Head

"O Aleph", numa homenagem especial à Sétima Arte, para relembrar o poder e a magia do cinema, e a influência que o forte imaginário da telona sempre exerceu sobre nossa intenção de escrita, neste ano de 2018 estará se dedicando particularmente a comentar os filmes, bons ou ruins, que passaram pelas nossas parabólicas. A abordagem não se restringe a filmes novos, podendo se estender a qualquer coisa que surgiu na tela, e que por acaso, só tenha sido percebido por agora, seguindo sempre uma linha intuitiva e não cronológica ou "popular", no sentido de bilheterias blockbuster etc e tal.
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A primeira referência de 2018 é o "Bullet Head", muito fraco por sinal, apenas pra lembrar com ironia gritante algo que acontece com uma certa frequência dentro do cinema americano. Sem papinho besta ideológico,  ressalvando-se algumas produções européias, algo do cinema argentino e também do cinema iraniano, ainda o melhor cinema do mundo, este que habita a terra do Tio Sam,  tanto em quantidade quanto em qualidade, contudo com essa particularidade estranha: os americanos também conseguem fazer o pior do pior, como se vê tão escancarado por aí, e sem qualquer cerimônia. É comum vermos tanto atores quanto diretores e roteiristas, depois de um trabalho denso, às vezes brilhante, num filme, entrarem de cabeça em outro projeto na sequência, inteiramente furado. A ponto de você se perguntar se aquilo ali é mesmo verdade ou delírio.

Nesse sentido, do delírio, imaginem, ao juntarmos no mesmo set, o irregular e mediano Antônio Banderas, que veio da brilhante escola de Almodóvar, com antológicas atuações em filmes cult, mas também um ator que se tornou estrela pop e meio ordinária de diversos filmecos de terceira linha inacreditáveis de hollywood, daí você pega o Banderas e junta simplesmente com dois monstros sagrados do cinema , como Adrien Brody e John Malkovith (vou poupar o leitor de citar qualquer referência à extensa filmografia dos dois), coloca tudo sob a péssima direção de um jovem roteirista de filmes de suspense trash (Paul Solet), e sai essa mistura estranha de "Bullet Head". Mais uma da esfera do inacreditável.

Filme de ação com intenção de suspense e violência trash, misturando uma história policial, de assaltantes foragidos (Brody e Malkovitch) que encontram aleatoriamente esconderijo nas ruínas de uma fábrica abandonada. Contudo, no período de quarenta e oito horas em que precisam ficar escondidos, sem eles saberem, no local existia uma rinha clandestina de brigas de cães, e embora esteja deserta por ora, ali se esconde um pitbull assassino que está ferido devido à ultima luta, ocorrida no dia anterior. Além disso, numa sala secreta, está escondida uma grande quantia em dinheiro, deixada lá temporariamente pelo vilão Banderas.

O filme não é bem suspense, não é violento como o gênero pede, e nem sequer é trash. É simplesmente indefinível. As sequências irritantes, previsíveis e trash que se sucedem vão do risível ao exagerado, mas tudo dentro de um ambiente inacreditavelmente clichê, onde nem mesmo as atuações de Brody e Malkovitch se salvam. Há uma tentativa nesse sentido, quando os personagens, trancafiados na fábrica porque não podem sair por conta do cachorro que os tocaiou, tentam em momentos diferentes, falar um pouco sobre suas histórias de vida, para instilar alguma pseudoprofundidade à trama. Fiasco total. É um desespero do tipo que você só acompanha porque não acredita em como foi possível unir essa gente talentosa para realização de um projeto tão ruim, do início ao final. Qualquer mortal, ao ler o script de uma coisa dessas, já saberia se tratar de uma furada completa. Ficamos sem entender como é que dentro da casa do cinema , com tanto recurso material e humano disponível, ainda se realizam projetos desse naipe.

Recomendação: se tiver Netflix, palavras cruzadas  ou o jornal de ontem, não perca tempo pra assistir esse enorme besteirol.