"Lou"

Belo filme. Difícil filmar cinebiografia e não ser chato, pelas limitações naturais do gênero. Temas históricos costumam ser camisas de força, ainda mais quando envolvem debate de idéias.

Contudo, "Lou" se sai muito bem na tarefa, ao narrar de forma criativa a trajetória de uma mulher ousada, muito à frente do seu tempo, reproduzindo, entre imaginário, material escrito e dados biográficos a relação da poeta e primeira psicanalista com seu próprio trabalho e a luta pela emancipação feminina, além do seu envolvimento com as cabeças-conceito do século XIX, tornando-se admirada, amada ou simplesmente virando a cabeça (Ah, essas russas....) de ninguém menos que os caras: Nietzsche, Freud e Rilke . O filme é muito feliz ao constatar, com justiça,  a poderosa influência que ela teve sobre a vida e obra de todos eles (parte que normalmente fica de fora dos livros de Filosofia).

Boa direção, diálogos espirituosos, atuações e belíssima fotografia. O recurso engenhoso dos cartões postais de época inseridos de forma dinâmica nas cenas como cenário vivo foi genial.

Cine Jardins, sempre na vanguarda. ;-)
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(Rindo alto aqui, do cartaz de veiculação nacional do filme pela distribuidora em razão da grande bola fora. Para se fazer a propaganda de uma mulher libertária, no pleno sentido da palavra, alguém com um trabalho de criação original nos campos da poesia, da filosofia e da psicanálise e uma personalidade importante na luta pela emancipação feminina, o conceito marqueteiro de se colocar uns termos como : "Admirada por Nietzsche", "Desejada por Rilke" e "Idolatrada por Freud", é bem fraquinho e equivocado, porque sugere ainda um valor subordinado. Bom, mas se o cartaz erra, ao menos o filme faz justiça nesse ponto, ao atribuir-lhe seus méritos próprios).