A poeira dos ossos


Ausente mesmo quando está 
Presente sem querer
mesmo sem qualquer vocação
Pai
A aridez que cultivou teu ser
geração após geração
(chegando a ti violenta desde menino)
Replicando teus modos, repicando teu sino
quão triste missão
Lágrimas secas como o leito rachado de um rio efêmero
que há muitos anos não vê chuva
Se o âmago da questão
nunca lhe tocou os instintos
(Que insidiosa razão)
Se as regras tornaram-se rédeas
a consolidar um antigo poder
nada mais que uma obrigação
Melhor o não-ser
do que se comprometer
apenas o corpo seco
sem restar nada ao coração
Pai
Apenas o perdão e a mente imaginativa
que recria sua própria história
(veja a vida como é viva)
reinscreveria agora tua presença
mais sólida, mais amorosa
em imensa e figurativa memória