Minerais



Colecionava pedras. de todos os tipos. havia um monte delas dentro de caixas de sapato guardadas no armário do quarto e embaixo da cama. pedras de todos os tamanhos e formatos, uma paixão particular por aquelas substâncias frias e brilhosas depois de algumas horas na lavada de tanque  com água sanitária e sabão em pó. elas saíam do banho brilhando ainda mais, seus fragmentos de minerais compostos reunidos artificialmente na amálgama de alguma lava derretida que por puro capricho prensou ali químicas diversas durante bilhões de anos. ele enfileirava suas pedras, prestando maior atenção às mais novas aquisições. o branco opaco inquestionável do cristal, a translucidez do quartzo  rosa, a semipreciosa ametista e seus roxos místicos que ganhara do avô paterno na última visita a Minas Gerais. o próprio avô, que ainda constava na lista do estado maior produtor de gemas, com o mérito de uma das maiores descobertas de água-marinha da história. avô pouco letrado e um tanto ingênuo, que deixou de fazer fortuna porque acabou desacreditando do seu achado e vendendo barato a uns gringos espertos. admirava uma por uma na calada da noite com a luz do abajur e uma lupa grossa de matar formigas. não percebia ainda, naquela idade, aonde foi mesmo que os fluxos de energia do universo deixaram de se tornar apenas campos gravitacionais para consolidar-se em pedras. a solidez aparente daquilo tudo não resistiria a um olhar mais profundo que aos poucos fosse decompondo a dureza, o peso e a origem da pedra. era possível saber até mesmo de onde vinha tal elemento, se ela surgiu na Terra ou veio de longe, nalgum meteorito que viaja pelo universo há tanto tempo. aquele corpo rajado ali, da malacacheta, era nada além de energia prensada e assada durante tempo demais na panela de pressão dos vulcões. de volta à Terra, de volta aos elementos, no quarto sobre a cama, em fila para contemplação aqueles mini-espelhos do universo fragmentado e refletido bem ali, diante dos olhos.