As neves do Kilimanjaro

chove em mim agora
muito mais que lá fora
e o frio que me abarca o peito
é essa coisa sem jeito
que não há coberta que aqueça

chove em mim há estações inteiras
e eu sei que esta não é a primeira
vez nem será a última com certeza

não tem feitiço que aconteça
nem cunharam as palavras mágicas
para desagitar as tempestades
que me governam

mesmo no dia mais calmo
de céu azul e mar brilhoso
de puro sol

uma coisa é o mundo
outra sou eu
(pensava, prepotente
do alto dos meus vinte anos)
viverei a vida ao meu próprio ritmo
e vou exercer meus influxos divinos
sobre as minhas marés

mas isso foi há muito tempo atrás