As portas

tenho me intoxicado, de leve
de todas as formas possíveis
rumo ao que flui de mim
quando não mais sou eu

e adoro o que vejo
na perspectiva outra
de me olhar 
como um completo estranho olharia

mais do que uma experiência narcísica
às avessas
é uma espécie de amor por compaixão
e vejo tantas arestas
tanta pretensão mal gerida
e ao mesmo tempo tantas boas intenções
brotando daquele solo improvável
que no final, esse outro agora
que olha aquele que sou eu , lá

toma-se de amores pela sua nova criatura
como um deus, eu acho que faria,
ao defender os seus

ficando apenas a dúvida, no final

se ele faz isso porque é um deus
e assim sendo, pode tudo

ou ao tomar-se de amores 
por sua própria criatura
[com tamanhos e tão perceptíveis
defeitos, alguns incorrigíveis]
este não seria apenas um falso deus
em imensa e irrevogável queda