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Mostrando postagens de novembro, 2018

Da necessária reinvenção do mundo pela palavra

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"Que importa à árvore  se não lhes apreciam os frutos ?"  (Nietzsche in "prefácio à Genealogia da Moral") -------- A natureza de ser Dois mil anos em sofrimentos metafísicos Para abandonar-se qualquer projeto vão A evidência em perceber em como o Ser é mesmo uma atitude e nunca uma essência dada Ser como uma busca Ser como uma angústia Ser como caminho, tarefa:                        Aresta e não reta Nunca resultado: todo resultado é a morte do ser e como tal, ponto de passagem apenas para a impermanência que nos configura somos eternamente tangentes A obra, tão incensada pela cultura --porque todo olhar que é externo a nós só acompanha aquilo que consegue rotular-- é nada além do ciclo mais comum O fruto, para a árvore, é processo e resultado orgânico, não a finalidade em si Pois o que importa é frutificar e não se empoderar do que se produz Há uma naturalidade no processo e um artificialismo tolo em se envaidecer pelo ex

Da solidez das águas (ou: na chuva com cachorros)

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A conquista de um certo tipo de solidão: minha vitória mais importante na vida. Como renegaria assim esse meu pequeno diamante esse status que tão bem e de forma tão completa me restitui? A liberdade de estar com todos aqui, ali, em horas pares e nas outras horas estar em ímpares só comigo mesmo sim, solo, como na chuva que cai neste fim de tarde  Silêncio precedendo trovoadas e eu aqui, aguardando na ansiedade as primeiras gotas e elas vêm largas e densas Todo mundo saiu, agora somos apenas eu e os cachorros. Ando muito com meus cachorros ultimamente. Uma espécie de reciprocidade e de identidade múltipla. Sou um pouco cachorro, mais do que eles são gente. Acho que eu os invejo, na verdade. Mas eles também são um pouco gente quando querem. E largam mão dessa opção besta quando estão de saco cheio e querem voltar a ser cachorros de novo e gozar em plenitude dessa liberdade que não assiste aos humanos. melhor pra eles. Eu e os cachorros em casa, trovejando forte e a m

Impermanência

A um deus perguntaram qual seria sua maldição o peso que mais lhe atormentava a alma Ele disse sem pestanejar: a imortalidade porque torna iguais todas as coisas não a iminência mas a consciência do morrer é que restitui o valor à vida mas isso quando o verbo bate no peito e não estaca: Impacta sem sofismas                    inaugurando a  autenticidade uma morte revelada, anunciada assumida e não mais negada uma morte não impessoal como as estatísticas das metrópoles uma morte não midiática como as narrativas policiais que polvilham jornais uma morte não ritualizada morte, sim, como metáfora desejada e natural como signo e  ciclo uma outra morte contínua, carregada que insufla no peito da vida a vida por sua mera expectativa uma vez compreendida Eros contra Chronos faunos contra Thânatos ébrios em vez de lógos uma ebriedade que não  ignore o passamento mas dele faz poema quando quebra a espinha dos possíveis o desenrolar das sobrevivências é ain

Saberes

o corpo esbarra nas coisas ao redor e algo por dentro registra suas impressões as impressões são combustível para outros processos infinitos deflagrados por dentro e a partir de algum momento são fragmentos de pensamentos e sentimentos a tocar a máquina e assim a vida segue em suas ilimitadas possibilidades de composições e cores cotidianas existem semelhanças existem diferenças, mas tem alguma coisa que transcende no fim que não é corpo mas também se recusa a ser espírito porque a vida não quer ser espectro não é bem matéria, ainda não é bem etérea fica no meio e é isso, conferindo solidez ao delírio dissolvendo os excessos da concretude do que se fala o que se sente se não somos em nós apenas as impressões marcadas das coisas que estão fora posto que somos mais o que mora dentro sendo que dentro vivemos um apanhado de coisas que são apreendidas, processadas mal ou bem mastigadas e nutridas para nossos propósitos tantas vezes indecifráveis (às vezes mesmo criando outros p

O Graal

A quanto andas Cavaleiro                         onde está o teu graal? cansado de batalhas teu cavalo tá perdido sem ver  mais qualquer sentido no final                                                 (há final?) A quanto andas, Cavaleiro onde estão teus ideais? teus motivos tão perdidos coletividades relegadas ...            estão perdidos teus motivos                agora pra não mais Eles (destituídos e fatigados) morrem, se entregam, se recusam a olhar muito adiante ou desafiando qualquer premonição se refazem agora, no instante em que o mundo la´fora em pavor e aberração reestrutura essa mistura de tédio, banalidade e terror No momento em que, sob os olhos insones do inquisidor camuflam-se à luz do dia as ilimitadas formas de amor Como se a morte o assassinato e a dor obedecessem a alguma normalidade e espreitar a liberdade soasse sempre como a fuga de algum perigo E  permitem-se e  glorificam-se com tamanha criatividade novas formas

Linguagem

Beijo é lingua tapa é lingua tédio é lingua encantamento é lingua afastamento é lingua sofrimento é língua abandono é lingua saúde é lingua doença é lingua falta é lingua excesso é lingua respirar é lingua mastigar é lingua sonho é lingua delírio é lingua suor é língua aspereza é língua corpo é língua espírito é lingua vida é lingua morte é lingua com ou sem sentido no fim tudo  comunica

Seguindo o cão

tocada morro abaixo, quem me leva é o cão pretexto fingir que o conduzo, de alguma forma cinco metros, parada estratégica . levanta a orelha parece captar alguma coisa que não está aqui mais cinco metros, estaca, mijada no poste não sem antes cheirar como quem lê uma carta deixada para trás por alguma outra criatura da raça um adversário intimidando um futuro rival que ainda não conhece, apenas pra marcar território quem sabe uma cachorra desesperada deixando uma apresentação e um convite de boas-vindas na pracinha, a cachorrada solta na área, latidas ameaçadas de fugir da corrente, como se essa criatura que está na minha mão se metesse a algum feroz cão de guarda. até olho ele de novo pelo arrupiado, bravio no elástico, dentes pra fora de um jeito que nunca vi. poco fora pra não dar mais trabalho, salto de banda e surge logo um besouro verde, uma esperança, um gafanhoto? acho que é um besouro mesmo, só que verde. e grande. o cão primeiro chega devagar, sonda o esp