A Dança (um olhar sobre a beleza trágica dos corpos)

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( Chet Faker, video Youtube)


APOLO X DIONÍSIO
(a tragédia cotidiana)

"Cantando e dançando, manifesta-se o homem como
membro de uma comunidade superior: ele
desaprendeu a andar e a falar e está a ponto de,
dançando sair voando pelos ares. De seus gestos
fala o encantamento.[...]O homem não é mais
artista, tornou-se obra de arte: a força artística de
toda a natureza, para a deliciosa satisfação do Uno-
primordial, revela-se aqui sob o frêmito da
embriaguez." (Nietzshe, "O Nascimento da Tragédia")

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O "Apolíneo" : os muitos anos de treino das patinadoras, a disciplina, a repetição até alcançarem uma perfeição da forma, na execução dos saltos, na condução dos movimentos, o controle individual exercido por si mesmo sobre seu próprio corpo; a ciência dos movimentos e seu alcance. Numa palavra, o esqueleto que permite a execução de uma força maior que o habita

O "Dionisíaco" : o fluir dos corpos através da música, não mais se lembrando da matemática do treino. É como se ,a partir da incorporação do movimento, agora como algo livre e impulsivo, o corpo saísse de si mesmo, querendo ser mais, querendo construir uma linguagem própria que é não-verbal e não obedece a qualquer programação. A embriaguez dos sentidos através do som e dos movimentos, da percepção e da fruição sem regras, quando o desejo toma as rédeas e quer habitar o corpo, abrindo mão do instinto de autopreservaçao individual para se remeter ao sentido coletivo da espécie

A arte trágica: quando as duas forças se unem para produzir um só objeto: a união da forma com o conteúdo , que  significa uma noção da dinâmica incessante entre o  controle (Apolíneo) sobre a pulsão (Dionisíaco), e vice-versa, da expansão do dionisíaco sobre o excessivo contido do apolíneo.

A essência da arte trágica ocorre quando existe a percepção de que a prevalência de uma só força sobre a outra diminuiria a pulsão da própria vida, e com ela, o efeito da arte. De uma forma extremamente original, assim é que arte e vida se unem de forma a se tocarem e se vivificarem uma na outra. Não há (ou não deve haver) o domínio de uma sobre a outra, e foi resolvendo essa equação que a antiga Grécia criou sua maior noção de beleza.