Thomas Mann (Doutor Fausto)

Na literatura como na filosofia, meu perfil de leitor sempre foi mais vertical do que horizontal, então, durante um bom tempo, eu não conhecia muitos autores, mas lia tudo daqueles que gostava.

Dentre eles, Thomas Mann, que foi pra mim uma "leitura de formação", e nos intervalos da graduação eu sempre me via mergulhado entre as prateleiras da biblioteca da UFES, caçando as obras do escritor. Comecei logo com o tijolaço "A Montanha Mágica", e fui seguindo, até que me deparei com esse "Doutor Fausto", que me deu um travão, tanto existencial quanto literário. É como se um livro de repente te reiniciasse numa certa visão do mundo, e a partir dali, ela passasse a integrá-lo para onde quer que você vá.

Tudo nele transborda: sua beleza, sua magia, sua dificuldade relativa e a complexidade até mesmo em termos de construção dentro da obra geral do autor. A abordagem sobre a música aparece de uma forma que jamais vi em qualquer outro lugar. Não bastava ter a vida própria como romance, e estar nas mãos amadurecidas de um escritor tão denso. Ainda existe/existirá sempre a referência poderosa da imagem ao fundo, do Fausto, matéria e transcendência tantas vezes abordada das mais ricas formas dentro da nossa história literária desde a idade média.

Um livro que ainda hoje me perturba e acalma.