Filosóficas III (Spinoza e a Alegria como potência)

Por uma espécie de equívoco
dentre tantas coisas que existem
mais marcante que uma prosa alegre
é sempre o osso de um verso triste

Descaminho de maior razão
o homem se perdendo a esmo
dentro dessa escuridão
que é esquecer-se a si mesmo

Olvida-se a  chance de poder vagar
que, de tão distraída, nos trouxe à vida
entre outras luzes,  a nossa foi escolhida
no universo de infinitos dados pra jogar

Refutar o sistema que nos diminui a potência
abrigar a ciência,  quando ela nascer de Gaia
ter arte nas veias, porque é o que nutre o olhar
realinhar a vivência  se ela se põe a replicar

A existência é um acidente cósmico
Todo biológico, um caminho sem volta
Dentre as partículas o orgânico destoa
Pela raridade,  pela novidade
sobretudo porque voa

Deus, se ainda há, não se atordoa
Para que não se quedasse o homem
diante do silêncio sem nome
deixou-o viver, sem revelar o mistério

Revelo, então: para a morte não há remédio
Para todo o resto, solução
não há,  se abandonando as causas
o sábio se põe a lamentar

Alegria, no aprender a ver
Alegria, no prospectar
Alegria em nada temer
Alegria de criar

Spinoza pregando a potenciação
Estado de lucidez criativa
como forma de lembrar à vida
a necessidade de se reinventar

Lembrando aquele antigo grego
sobre a contradição e a inutilidade
de se nutrir a mais vazia  preocupação :

Se estou aqui,  e vivo
a morte comigo não está

Se amanhã ela reina, sob tantos
palmos de terra
eu já não estarei mais lá