Antropologia contra as trevas









"O cru e o cozido", um dos 4 livros da série "Mitológicas", de Lévi-Strauss.

Vasta pesquisa, reflexão , trabalho de campo, resumo da experiência de décadas como privilegiado observador dos últimos povos ainda sem contato com a civilização. Seus costumes,  suas tradições,  a relação possível com nossa maneira de ver o mundo. As diferenças.

 Indescritível  a beleza e a importância dessa tetralogia de um autor fundamental, que trouxe ao contemporâneo seus principais espelhos ao enfatizar a necessidade da referência pelo olhar do outro.

A "verdade civilizatória", esse algoz, mostra-se assim a maior mentira em contraste com um olhar do relativismo cultural. O "primitivo" é um mito. A complexidade e a beleza de cada contexto,  suas expressões estéticas, seus cantos,  suas cores e complexidades ganham um reforço ao direito de existência. Cada povo e cultura tem seu direito à vida e à voz, herança talvez mais profunda e grata ao pensamento deste grande autor.

Clássicos são clássicos,  e não sem uma boa razão.  Ler isso hoje, tão atual mais de meio século depois de sua publicação, ao passo em que se assiste por todos os lados às reiteradas tentativas de massacre das minorias étnicas, à perseguição das diferenças,  à intolerância de modo geral e a um recrudescimento da verve fascista contra as políticas sociais, torna-se um tipo de enfrentamento onde os livros e a história são as mais poderosas armas.