Dos sons que ficam
U2 - "Achtung Baby" (1991) , uma das obras de arte (raras) do rock
contemporâneo, e não à toa de uma de suas melhores representantes.
Um dos álbuns que mais me emocionam ainda hoje ao ouvir. De ter
tocado esse som, de ter cantado todas essas músicas ,letra por letra.
De ter acompanhado essa banda desde o nascimento, naquele
estrondo de cores e coração pulando no peito de "Pride", "Indian
Summer Sky" a coisa de tamanha beleza incontida em "Bad", e
"Unforgetable fire", todas do album de mesmo nome.
A porradaria comendo solta depois em "War", um disco-protesto
sem perder o tom. Criado ainda na respiração do conflito sangrento que
matou tantos inocentes nos embates entre Inglaterra-Irlanda.
"Sunday bloody sunday" e "New years day" cravando na faca
as marcas da violência das forças britânicas e a resposta à altura
do I.R.A., então em plena atividade.
Em Achtung, uma banda já muito experiente e famosa, mas à beira
do abismo. Uma última tentativa, meio sem esperanças, um
processo de estúdio, uma convergência de forças em prol
de um projeto, e os conflitos naturais desse confinamento.
Incrível a atualidade dos timbres, 30 anos após o lançamento,
a pertinência e o engajamento dos temas existenciais,
as levadas de fusão entre eletrônico/acústico, pesquisa de sons
e efeitos onde a banda corajosamente foi uma das pioneiras.
Algumas experiências iniciadas aí foram desembocar no
album "Pop", anos depois, no flerte inusitado de uma
tradicional banda de rock com o ambiente musical eletrônico
onde já estavam "Prodigy", "Chemical Brothers" & cia
"Achtung Baby" foi uma feliz redescoberta dos trilhos,
depois da famosa turnê americana do "Rattle and hum"
e de quase serem tragados pela máquina, esgotados pela
quantidade de shows num espaço tão curto de agenda.
De novo às composições na iminência do quase-racha histórico
e de um bom tempo andando em círculos, após mudarem
definitivamente o cenário rocker com o álbum "The Joshua Tree"
cinco anos antes e chegarem ao mais alto degrau do mundo-pop.
A difícil tarefa de fugir à absurda pressão da
indústria musical bilionária para manter originalidade na voz.
(Toda essa história restou gravada no documentário
"From the sky down", referência abaixo)
A curiosidade, nessa trajetória musical, de observar como os
trabalhos, desde o surgimento da banda, são inteiramente
diferentes uns dos outros. Embora a pegada musical, é claro,
demonstre uma personalidade, um estilo, cada proposta
sobreviveu de forma independente e com sua própria voz.
A arte dessa coisa toda, unindo a simplicidade conceitual
-- característica marcante do U2 e da trajetória do rock irlandês --,
e um deixar-fluir de talentos melódicos (DNA de "Edge")
aliados a uma potência poética sem igual nas letras
(talento especial de Bono), e que durante a melhor fase
da banda se tornaram uma sólida referência mundial.
========
(2011) Belo documentário sobre a criação do album "Achtung Baby"
A beleza de todo o trajeto, os desânimos e incoerências
típicas do universo artístico, as curiosidades e intempestividades
do processo criativo, com as gravações de cada integrante da
banda, pela primeira vez. Versões iniciais -- algumas até
irreconhecíveis -- de músicas que depois se tornariam hits