Estúpido Stalker

Que queres aqui, afinal? 

Os homens da lei demoraram

(como aliás é o seu costume)

mas pacificaram a matéria 


E, pelo menos até que nos venha

estorvar  nova respiração deletéria,

arquive de boas esses teus registros 

que mal escondem a inata vocação 


Guarda o instinto de capacho 

para ser usado em outra tarefa

(E isso é o que não há de lhe faltar 

por essa corja que nos governa)


Se nada acresces ao que tocas

Se não fizeste brotar na janela um olhar 

Nos canteiros uma flor

Se não se tornou úmida a terra 

por tua causa

Nem os pássaros melhoraram o canto 


Se tua mente  segue sendo 

apenas veneno

a intoxicar o caminho das estações


Se ainda trazes na testa inconteste

ora a cruz que sequer  compreendes

ora os bordões tediosos do dia

ora as cores que não reconheço


Ou o paiol dessa moral

de enfeite que não me toca

Uma moral de escravos

que desconhece a palavra mais forte

A que desafia a morte para rimar

com eternidade


Por um instante, apenas 

repensa o impulso que vai na boca 

Corre de volta à tua toca

Se nas mãos toscas

ainda trazes a mesma tocha

que reduziu tanta vida a cinzas

e ceifou em outras eras a inteligência

as sensibilidades e belezas


Corre de volta à tua toca


e continues a servir 

aos teus cegos senhores 

digerindo por profissão 

tristes egos e mantras

que se espalham em tantas

diferentes línguas e corpos

caras e formas variadas

no decorrer da história