O Aleph - 10 anos





Comemoração extemporânea, na verdade, porque desde abril de 2010, lá se vão 11 anos já, da criação deste Blog. Mas em abril 2020, quando a bomba Covid já fazia tantos estragos, não senti qualquer motivo pra comemorar qualquer coisa. Na verdade, quase parei com a escrita de vez.

Muitas felicidades lancei aqui, muitas dores e catarses também. Belezas, terremotos e momentos de silêncio espacial necessário para recuperar o fôlego depois de uma grande alegria ou tristeza. Não houver nenhuma outra função para os textos, ao menos a mim me consolam tê-los escrito.

Penso que a escrita, no fim das contas, pareia com a vida, com a respiração,

com os fluxos em geral, tanto humanos quanto da natureza,

em suas manifestações. Você pode metabolizá-los, metaforizá-los, mas não se deve tentar contê-los


O fato é que, nesse período de mais de 10 anos de escrita compulsiva,

o Blog foi meu grande "arranjador", um imenso facilitador

para organizar, editar, manter o foco, em vez de simplesmente

perder os textos ou o fio da meada, como tantas vezes me ocorreu, ou quem sabe tenha assim conseguido resistir ao desejo de queimá-los de tempos em tempos como fiz outras vezes

antes de finalmente tomar essa decisão, de me aprofundar na escrita como via para habitar o mundo. Depois

de tê-la abandonado por quase uma década, foi a 

possibilidade de construir e lidar com o blog e através dessa valiosa ferramenta que me pus ao

desafio diário de prosseguir, contando com os meios práticos para facilitar a caminhada.


Como resultado dessa prospecção que envolve intuiçaó, uma certa fé no propósito

e muito estômago tanto para adentrar os confins do próprio espírito

quanto do espírito do mundo, das pessoas, do ao-redor, e como

resultado e síntese criativa influenciada de muita ruminação e bastantes leituras, pesquisas, uma intensa busca

que me caracteriza, para além de um determinado estilo literário, muito mais como pessoa e escritor, além do gosto pela

variação de estilos  e a pura experimentação,

tendo como fio condutor "O Aleph", (embora tenha criado e 

trabalhado já em 04 blogs no período,) surgiram no caminho

19 livros, ao todo, nesses 10 anos de material que enfim consegui reunir mais ou menos por gênero, afinidade ou bloco de intenções, temas recorrentes etc, sendo 9 livros de poemas, 4 de contos, 3 romances, 1 de ensaios,

1 de crônicas e 1 livro infantil. Havia uma proposta de teatro

e dramaturgia, que depois de umas tentativas acabei

abandonando no momento, embora seja fã de teatro e de toda a beleza dessa arte que é a mãe de todas as outras

Criado em abril 2010, o blog aniversariou seus 10 anos no ano passado,

daí que a conversa e a comemoração extemporânea são porque

desde o início de fevereiro decidi publicar e venho disponibilizando por aqui mesmo  boa parte do material que andei rabiscando nessa última década, alguns originais, outros já publicados no blog, outros ainda reeditados depois de uma revisão básica.

(Obs: A propósito de revisão: não, não uso , não aceito e ainda repudio a última reforma ortográfica que aleijou nossa poderosa variação pátria da língua portuguesa, até então muito mais rica que a original). Sigo na antiga, de boas.

Sim, em vez de parar com a escrita, como sentimento negativo que fortemente me veio em 2020 , hoje sinto exatamente o contrário. Um novo pulso para o mundo que ainda não vi, um novo fluxo criativo que envolve desde inspiração a uma mudança de enquadramento do real vivido. Coisas novas a se explorar, enfim. A vida não para. O texto não pode parar .


Como persistir é também resistir e dizer não ao

que nos assola, confesso uma coisa em homenagem a todos aqueles que lutam e fazem de sua luta, sua arte, seu talento, uma poderosa e generosa arma por um mundo melhor. Foi por eles que decidi, depois de um tempo  e uma crise existencial violenta que durou meses, continuar a escrever minhas tortas linhas.

Principalmente me valendo dos fortes exemplos de outros artistas e bravos que tenho a chance de acompanhar, de

uma forma ou de outra pelas maravilhas da internet e pelas maravilhosas publicações que nos chegam

Esses trabalhos, suas atitudes engajadas por um mundo melhor e seu

inegável talento, sua vontade de seguir em frente,

na chuva e no fogo, fizeram sem dúvida com que

eu quisesse estar aqui de novo, e hoje, mesmo ainda

diante desse cenário, comemorar (com atraso esses

dez anos entre altos e baixos), como celebração da escrita e do texto em última instância como afirmadores da vida contra a pulsão de morte que ronda nosso país.


-  Dito isso, a segunda motivação é porque não há sentido em manter

isso guardado mais, por conta da mudança de proposta

estética que se vai fazendo no trajeto, enquanto outros

contextos surgem. Independentemente da plataforma

utilizada, livro papel, e-book, blog etc, é importante

para quem cria tocar a linha dos seus novos projetos em vista

enquanto as crias antigas possam andar por suas 

próprias pernas, ou no mínimo, finalizando a fase à qual a obra pertence, coroando enfim a intenção

e o projeto para o qual foram criadas. 

Por  isso, e como consolidação de um ciclo caminhado

estou publicando (talvez a melhor expressão seja organizando a publicação)

neste blog, a partir deste mês de fevereiro, 

de alguns desses livros, provavelmente todos os de poema e alguns

de prosa como contos, crónicas e quem sabe o de ensaios,

no dia em que eu conseguir revisá-lo e aceitar que acabou e está pronto.


Já foram disponibilizados 3 livros de poemas:


- A persistência da memória (anterior ao blog, único reminiscente dos primeiros rabiscos)


- Cinema


- Urbanidades 


E serão publicados na sequência


- Os dias 


- Menino


- O sonho de Spinoza 


- Cavalos selvagens 


- Música 


Apesar da disciplina que me proponho diariamente, entre 2 a 3 horas de Leituras 

e escritos, pelo menos, meu processo de criação é caótico. Vai ao sabor do vento. Muitas vezes começo um poema pela manhã, e quando vejo, à noite ou uns dias depois, há mais elementos descritivos nele e uma busca de diálogo histórico, a linguagem fica na superfície, mais simples, e acaba ganhando continuidade como crônica . Outros vêm no sentido contrário. Tem hora que uma situação- memória ou imaginária quer manifestar-se mais, cravar mais fundo sua vida, dizer a que veio, e isso pede uma personagem, um enredo de conto breve ou quem sabe romance se as redes se aumentam junto com seu universo próprio.

Gêneros não são nem devem ser camisas de força. Há quem duvide até da sua necessidade. Digo isso apenas para me situar quando penso na possibilidade de existência do leitor. Vou escrevendo porque tal tema me interessa, e a forma surge no final, dependendo de como todo o processo me afeta ou pede para se expressar.

De todo modo, esses  textos foram escritos no intervalo de 10 anos, de forma

descontínua. A própria idéia de organizá-los em livros foi para tentar

agrupar em torno de algum tema ou percepção de caminho possível

para suas estéticas e propostas no decorrer do tempo, onforme os próprios títulos sugerem.


Como não há um rigor absoluto com ordem cronológica, alguns desses 

trabalhos são resultados da primeira fase, que vai de 2010 a 2016, 

época da publicação do livro de contos "Manga Verde" e o restante vem a partir daí, girando a organização dos textos mais em torno dos temas de afinidade do que datas