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O caminho de todas as coisas

Olhar ainda não é ver Escutar ainda não é ouvir Abraçar ainda não é ter Concordar ainda não é sorrir Perdoar ainda não é sentir Aspirar ainda não é querer Engravidar ainda não é parir Esperar ainda não é sofrer Andar ainda não é dançar Nutrir ainda não é comer Falar ainda não é cantar Calar ainda náo é morrer Correr ainda não é voar Embriagar-se ainda não é beber Acudir ainda não é salvar Achar-se é não saber se perder [O que falta ao homem: lembrar-se de que ele é a medida de todas as coisas O que falta ao homem é lembrar-se  de que ele sempre foi a medida de todas as coisas] A ciência ainda não é poesia Adulto ainda não é criança Certeza ainda não é esperança Desejo ainda não é fantasia Religião ainda não é espírito Garras ainda não são mãos O céu ainda não é a Terra Teu corpo ainda não é perdição A verdade ainda não é a guerra A Igreja ainda não é a razão Deus ainda não é homem Desamor ainda não tem perdão Trabalho ainda não é fim Nem mesmo a civ

Festa de Agosto

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No rosto, a chuva Na fuga da tarde Matar aula Cavar tempo Aventura Sem idade Sobre o morro O Espírito Sobre o espírito Velocidade Luzes, Exposição: É a feira da cidade. Gostando dos pingos  Batendo no rosto Os ventos de agosto No alto da colina Na boca, o gosto Os olhos as curvas Presença dos  sonhos Aquela menina Chicletes com música,  Balas de hortelã Pipoca no cinema Drops com adrenalina. Parque- da- festa, de diversões Gente modesta, maçã-do-amor. Meninos pequenos, meninas-com-as-mães Bate-que-bate , meninos-carrossel "Moço, um ingresso!" pra porta do céu Roda que gira, gigante-que-bate Gira-que-bate essa roda de parque Festa do povo, cheiro de pólvora Crianças que rodam Traques-rojões Trem fantasma, trem do terror É festa na cidade do interior. Montanha-russa, algodão-doce Crianças adultas, adultos crianças Ingressos pros sonhos Cavalos girando Fantasias, pipoca, Choro                       E muitas lembran

Réquiem para Hannah Baker

É quando o mundo continua insensível aos teus gritos mudos e tudo o que ouves dele não é mais qualquer consolo somente acusações e sentenças proferidas à queima-roupa como tijolos intransponíveis de um muro sólido e surdo a memória que agora te volta à tona, com  tanta frequência é o frasco de comprimidos ou a água morna da banheira enquanto a lâmina afiada e fria, preparada no ritual aguarda, como num manual, aquela instrução certeira Quando o gatilho armado que, ao lado de  tua cabeça repousa, relegado, antes que o pior aconteça na explosão de matéria rubra a redecorar o quarto na amarga espera para se tornar um retrato quando o desejo maior é cessar todos os desejos aliviar-se para sempre de ser, de ter, pensar ou sentir porque a língua que praticas, a pele que tocaste um dia na frente de um espelho, a razão bela e frágil de existir o corpo-sem-medo que agora habita em ti é objeto em despedida a imaginar outros vôos e a coragem que ora inaug

Ser e existir

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(para o Poeta Pantaneiro) ----------- ... De tudo o que se vê no mundo a metade existe somente na nossa cabeça Os olhos é que mundeiam para enxergar... Isso, porque ainda nem falei de Heidegger para quem, o que existe mesmo são os humanos Alguns autênticos, Outros inautênticos, enfim Como acontece à própria vida O restante das coisas, bichos e plantas ainda que se esforcem , nunca conseguirão os pobres de mundo possuem unicamente sua essência imutável Eles podem ser mas estão condenados a nunca existir Esta minhoca que agora cava sob meus pés redondeando em parafusal espirante um girobolante escarafunchar do barro neste terreiro de chão batido  parece não concordar muito com o Filósofo Assim como estas formigas que, em organizada carreira, carregam apressadamente suas folhas nas costas e seus grãos de açúcar furtados do pote da cozinha (ciência de chuva que se aproxima) Acho que não preciso dizer a elas que He

Existencialismo, psicodelia, critica social e ousadia estética: A História de uma obra-prima.

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Quando se fala de arte, independentemente do terreno de sua expressão, seja no mundo figurativo da escultura, da pintura, ou não figurativo da dança, da escrita ou música, é muito fácil se enrolar ao tentar definir conceitualmente aquilo que é bom ou ruim, o que é certo, errado ou onde estão, ou mesmo se devem existir os tais limites para a criação. Perde-se muito ao tentar racionalizar um discurso que pertence a outro gênero de conhecimento e experiência humanas, porque geralmente essa fala explicativa opera um reducionismo ao usar uma linguagem estranha para "dizer" e tornar palatável aquilo que foi criado dentro de um outro modo de experimentar o mundo. Na falta de critérios absolutos para definição, uma vez que a arte não se curva à mera análise cartesiana da racionalidade, ao mundo hermético dos conceitos que compõem a Filosofia ou mesmo ao quadro de funcionalidades e relações típicas do pensamento científico, o que acaba acontecendo é a imposição de verdades com

Terradentro

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(Para  Diadorim) Candeeiros, esmeraldas águas verdes da alma por botes entre   rugas de cristais e pedras --Moço, jamais se apreça o que entra pelos olhos nestas vidas, nestas gemas em paredes de terra Águas do chão do deserto, sertão formas em levante contínuo escarpados               solidão. Bandeiras e coroas, Veredas: o domínio da selva (ou como diria um grande amigo "O relegado do espaço".) Geografias de gigantes no abandono  que se quer nação. jagunçando o miolo da vida para nutrir os olhos em reverência ou revelação Gerenciar quereres e continuar amado desejo apenas de não ser esquecido? Vida é assim miúda, gente Menor que seja sigo, não importa. seguir sempre ruminando no caminho contra toda tempestade como pedrês  animal de sela ferido no destino que não aceita é cumprindo que se rebela é aceitando que ele rejeita Destino? O que seria, pois... viver não é estar sempre no começo? animal de sela e toda direção é cam

"MATRIX" , ALICE E OS PARADOXOS DO CONTEMPORÂNEO

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Lembro-me, nostálgico, do conceito de futuro exposto por  Fritz Lang, no filme cult "Metrópolis", realizado há quase cem anos... A coisa toda ficou bem pior do que o gênio alemão poderia supor. A sensação claustrofóbica e a vertigem  de estar de pé em um planeta que parece girar cada vez mais rápido, num universo em contínua expansão, a sociedade pós-industrial  criando e destruindo referenciais com tamanha facilidade e volume que torna impossível a qualquer mortal assimilar a quantidade e a qualidade de informações julgadas necessárias para a sua vida. Situação de perda, que gera um certo descontentamento ou frustração diretamente proporcional à escala em que as próprias notícias, a tecnologia ou o conhecimento são produzidos. Ou seja, quanto mais informação, maior a tendência a uma relativa perda do referencial, e maior a sensação individual (em alguns casos coletiva, quando atinge determinados grupos) de perda, de incompletude, de infelicidade, enfim, de que está faltand