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Blú

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                         Sou daqueles que não gostam muito de crônicas curtas, “padrão jornal”. Não necessariamente pela qualidade, em si, do texto. Há jóias que vêm em pequenas caixas   e muitas coisas boas sendo feitas, e é justamente por isso que me angustio, porque imagino que o cronista, criativo e diligente, teria tanta coisa mais a dizer e foi tolhido simplesmente no momento do maior vôo pela necessidade de se adaptar ao sufocamento do pequeno espaço. A coisa pernóstica e sempre presente do marketing contra a arte, aquelas imagens visíveis ou enrustidas de anúncios   que pressionam as colunas de jornal logo ali, acima e ao lado de sua cabeça, para patrocinar o espaço do texto.   Tenho ainda uma outra desconfiança, quando os temas para as crônicas vão ficando muito rarefeitos ou batidos, e daí os assuntos acabam resvalando   com muita frequência no trivial adornado pelo dia-a-dia doméstico do cronista. Mas como toda regra tem pés de barro, chegou também o meu dia de a

Loki

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Mas que bicho é este, que ainda quer se tornar personagem, este tal Loki, uma pequena criatura com nome de Deus Viking, o deus mais zoeiro e brincalhão aliás, que aprontava todas nos jardins sagrados de Asgard por conta de seu ciúmes e sua eterna rivalidade com o irmão famoso Thor pela preferência do deus-pai Odin? Essa pequena bola de pelos chegou aqui em casa assim, meio de improviso, quando um dia fui ver um anúncio de uma bicicleta de corridas num sítio de vendas na internet e, assustado e desanimado com a tal bicicleta que tinha preço de carro, já ia mudando o navegador para o fatídico e viciante mundo dos jornais online quando topei sem querer com um anúncio de cachorro, um bichinho meio diferente, todo branco e preto, com cara de arteiro, me olhando fixo naquela foto digital. "Border Collie", dizia o anúncio. Conhecia a tal "Lassie", o mais famoso Collie do mundo, quem não conhecia? Mas esse tal Border, nunca tinha ouvido falar. Apenas a imagem me l

"Pink Floyd: The Wall". Existencialismo, psicodelia, critica social e ousadia estética: A História de uma obra-prima.

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Ensaio publicado originalmente em "O Aleph", em março/2014, pela celebração dos 35 anos do album "The Wall", um dos mais significativos trabalhos da música contemporânea, e desencavado agora, em 30-11-19 que completou quatro décadas confirmando o caráter absurdamente mágico e extemporâneo da arte, mesmo quando ela mergulha fundo na intenção de capturar e diagnosticar os valores do seu próprio tempo. Para Roger Waters e a todos que lutam por algo além de si mesmos ---------------- Quando se fala de arte, independentemente do terreno de sua expressão, seja no mundo figurativo da escultura, da pintura, ou não figurativo da dança, da escrita ou música, é muito fácil se enrolar ao tentar definir conceitualmente aquilo que é bom ou ruim, o que é certo, errado ou onde estão, ou mesmo se devem existir os tais limites para a criação. Perde-se muito ao tentar racionalizar um discurso que pertence a outro gênero de conhecimento e experiência humanas, porque geralmen