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Mostrando postagens com o rótulo ἔρωσ

Champanhe

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(foto: Leda Petit, por Jocelen Janon) O que há em ti que atiça em mim as feras deflagra toda saliva e dissolve as dores quando  passas? O que há em ti que enrijece o pescoço e dobra os joelhos mesmo ao sem-deus que bebe em tua taça? O que há em ti que enlouqueceu geometrias engendrando espaços Desfibrilou pensamentos liquefazendo os desejos? O que há em ti que reitera a insaciável sede A ânsia pelo suor sorvido como o melhor champanhe na garrafa? O que há em ti Qual a razão dessa forma em particular, e não outra? Nem cristal nem vácuo nem metal: Tramas, encaixes e relevos densos O que há em ti que cativa os sentidos dessa doce obsessão prendendo ainda meus pés neste chão enquanto o universo inteiro se esgarça? O que há em ti que faz perdurar personagens de sombras e luz na tela mais funda destes olhos? Um filme sem fim encenado por cada movimento teu

Tatame

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Fim de luta, fim de pesadelo. no quinto embate do ano, depois de três vitórias e um empate, terminou perdendo por pontos. deu bobeira. teve sua chance, o adversário  era resistente aos golpes, mas nos fundamentos não era lá um lutador tão bom assim.. tinha fraqueza na guarda excessivamente  baixa, provocativa, um tanto arrogante, e não aguentava bem os socos na linha da cintura, como mostravam as caretas de dor que fazia a cada porrada nas laterais . na luta, como em qualquer esporte, não adianta ser exímio numa única habilidade, há que se alcançar uma média nos fundamentos , e aí, sim, a partir daí seguir para o aperfeiçoamento da virtude pessoal, aquele golpe-mestre que só você tem e que poderia por talento e quem sabe um segundo de sorte levar uma carreira adiante, finalizar situações difíceis e quase perdidas. Abusando da sorte e de tudo que aprendera até ali, ele quase finalizou em duas tentativas nessa luta, uma com os pés, outra no soco direto, mas a flexibilidade impress

Litoral

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Ela disse aquilo com a cara mais limpa do mundo, no rosto seu famoso sorriso irônico com os olhos chinezinhos quando ria. Criança levada, em corpo de mulher. Ele, surpreso com a revelação, sem nem tentar fingir. Mas então, sua maluca, quer dizer que lá no barzinho… e na pista de dança, você o tempo todo... !? Ela ria mais alto, sem se conter e fazendo que sim com a cabeça, e ele ainda meio aéreo: mas sem nada, nada? Desacreditava. Ela confirmava, sim, sem nada por baixo. Só de mini-saia, seu bobo. Homem não repara, mesmo Saí assim de casa hoje à noite. Bora, então? Pegar ou largar?  Eu topo, ele disse, sem tempo pra pensar, mas mudando um pouco o jogo deu as chaves nas mãos dela, também sorrindo e desafiando. Liga o monstro aí, vai. Hoje você pilota. Apanhada no susto, ela contudo não consegue disfarçar o brilho nos olhos. Vinha aprendendo há um tempo, mas ainda sem motos grandes. Pega as chaves nas mãos dele, dá uma tremidinha de ansiedade, um arrepio  na espinha e vão para o es

As Ruínas do Olho

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             Céu alto e limpo, cirros aleatórios no amplo e distante azul. Pontinhos pretos em formato dáblio, girando em círculos largos e concêntricos, baixando como uma espiral, lentamente, a cada vez mais perto da visão. O sol muito quente de uma manhã de verão não respeita as raras gotas de orvalho caídas durante a noite sobre a grama e os galhos das árvores. Ele as evapora impiedosamente, com certo prazer. Há uma previsibilidade que me chama a atenção naquelas pontinhas pretas em formato dáblio, lá no alto. Aquelas asas pareciam, na verdade, pequenos mustaches voadores. Sim, eram como bigodinhos de Dali voando disparatados. A cada giro concêntrico, elas vão se tornando maiores. Urubus! Muitos. A maioria não bate muito as asas, apenas plana sobre a golfada de ar quente que sobe pela encosta criando uma nuvem de vento parador ascendente. Enorme perícia dessas aves, que giram em grupos geométricos, calculados. Abrem o círculo, por um segundo sugerindo uma fuga, para logo

Reine sobre mim

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Cinco e meia da manhã, ruas escuras lastreadas apenas pelo fio das luzes de âmbar da avenida principal. corre, aperta o passo, resfolega, não pode se atrasar. sol ameaçando não nascer. formação ríspida em tropa, início dos trabalhos. a mão direita levada à diagonal da fronte, em ângulo agudo de 45 graus. fardas verdes, barulho de movimentos sincronizados. marcha lenta, marcha rápida, marcha. olhar fixo na bandeira verdeamarela com os três dedos margeando a pala do quepe. vai hasteando o pavilhão e segue o   soldado encarando as vestes da sua pátria que tremulam ao   vento fino.   “Sim Senhor!” , “Não Senhor”, “Um, dois, um dois”. cantigas tristes na sequência com fuzil na mão, uma bala para cada sentimento no cartucho, simulando uma alegria artificial pra espantar o frio da fria manhã de julho neblinando. Quando o cansaço apertava, o sem-sentido da coisa toda invadia sem aviso com tamanha força a ponto de tontear qualquer razão. Vontade de largar tudo e sair correndo, pagar

A garota da rua de baixo

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Morreu aí dentro, filadaputa? Os infelizes socando a porta e dando gargalhada. Tentando quebrar meu ritual sagrado, meu momento de estar com os anjos. Eu nem aí. Não me desconcerto. A força da vida é sempre maior. Fodam-se, todos eles! Eu continuava autocentrado na minha atividade, sereno e dedicado,   embevecido e apaixonado por todas aquelas beldades espalhadas pelo lugar. Palmeiras X Flamengo rolando lá na sala, segundo tempo da partida de botão   enquanto isso. Viado, filadaputa! você roubou enquanto eu olhava pro outro lado, seu jogador não estava ali antes! Berrava Magal, sempre um cavalheiro. Ele e Yuri, na mesa de centro da grande sala   de piso de madeira encerado e teto alto, se digladiavam na disputa da última vaga para as finais de nosso sofrido campeonato de botão. Lá fora explodia um calor dos diabos pelos campos, e eu continuava deitado de costas no chão fresco de cerâmica vermelha, trancado no banheiro da casa de meu amigo Nando. Continuava com os olhos vidra