ELES, O MONSTRO PARANÓICO




Eles chegaram
Eles sentaram
Eles estão bem à minha frente
Eles me encaram, agora,
fixamente
Na busca de um olhar furtivo
Uma piscada que seja

Tomo meu uísque
fingindo a calma que nunca tive
balanço minhas duas pedras de gelo
despisto e olho
_lá estão eles!!
me encarando novamente...

Acendo um cigarro
dou duas tragadas
navego na fumaça
permeando algo no espaço
que a essas alturas já se perdeu
Despisto e olho de novo
_esses olhos...

Certeza: não sou forte o bastante
Fixo perdidamente o chão
Como se procurasse minha casa,
cova da qual
não deveria ter saído
Reconheço, finalmente,
Meu lugar é nos subterrâneos
Embaixo do soalho me sinto melhor
Suporto com segurança
o peso do mundo, pesado-de-pedra
concreto no olhar
Sempre inquisidor
Olhos que assassinam
minha musa privacidade


Eles, o monstro,
nunca me deixam em paz
Eles, o monstro,
querem sempre saber de algo
Eles, o monstro
me deixam tenso
como um campo minado,
que ao menor toque
manda tudo pelos ares

Eles, o monstro,
parecem às vezes até saber
que não existe o mundo lá fora

por isso nunca saem
daqui de dentro