Sobre Aeroportos e Saudade

Por Antônio Rocha Neto *

Gosto muito de ficar zanzando em aeroportos. Lugar de chegadas e partidas, acolhimentos, despedidas, lágrimas de quem parte e de quem fica, de quem regressa, abraça, beija, chora e se espanta: “como esse menino cresceu!” “como você está linda!”. Faixas de boas vindas, de felicitações por conquistas, tudo isso me entretem, me diverte, me emociona e me leva a pensar na dádiva de nossa constitutiva e abençoada finitude. Sim, abençoada. Imaginemo-nos imortais: como seriam os saguões de embarque e desembarque dos aeroportos se, por exemplo, quando um filho nosso vai estudar noutro estado ou país, não nos assaltasse aquela estranha angústia de perda, aquele inquietante sentimento de “talvez última vez ...”. É a consciência de nossa finitude que nos emociona nas despedidas e nos enche de alegria a cada retorno que se realiza, e justamente porque está se realizando algo cuja realização era desejada, sonhada, esperada ... mas incerta.                                    

Num mundo de imortais perderíamos as mais sublimes cerimônias de encontros e despedidas. Perderia força o sentimento da saudade, pois nenhuma perda seria definitiva. Saudade, um dos mais nobres de nossos sentimentos, que nos faz sofrer, mas também nos faz sonhar, nos faz compor as mais belas canções e escrever os mais lindos versos. O que seria da poesia sem o motor da saudade?                                      

Amaríamos com a mesma intensidade aquilo que jamais corrêssemos o risco de perder? Acredito que não. Estou convencido de que, certamente, não. A mortalidade desempenha um papel mais importante em nossa condição humana do que podemos imaginar. Somos no horizonte de nossa constitutiva finitude. É tendo-a em mente que estamos abertos a um sentimento como a saudade. A verdadeira saudade é aquela que me atrevo a traduzir como “um medo de nunca mais”, nas separações temporárias, podendo ainda manifestar-se, de forma mais aguda, como “um sentimento de nunca mais”, ou de “até um dia, talvez ...”, nas separações definitivas. Não sei se há um Deus, mas sei que, se há, Ele, na verdade, não pode tudo: Deus, em sua onipresença, não pode sentir saudade! Felizes de nós, meros mortais, por podermos senti-la, e mais felizes ainda aqueles que são capazes de provocá-la! Morrer é não ser objeto de saudade. Morrer é ser esquecido, bata ou não o seu coração ...

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*Antônio Rocha Neto é Escritor, bacharel em Economia e Filósofo.