Dante
Sei nem se era sonho, não sei se era real
nem tudo é claro nesse mundo
enquanto se fazem os caminhos
e o andarilho segue sozinho
seus passos vacilantes
Ninguém questiona a razão durante o dia
por costume ou por amor ao excesso
mas no cair da noite fria
ao lembrar dos meus tropeços
é justamente quando eu mais tropeço
Meus pés sobre pegadas incertas
e eu ainda nem ao menos sabia
se vivo, eu tocava os mortos
ou, se morto, falava aos que viviam
No escuro, eu chamava os anjos
(mas o eco da minha própria voz sumia)
ouvia gritos, ouvia cantos
mas no entanto
nem uma pálida alma se oferecia
Enquanto isso, atravessava como se voasse
dos lados, apenas asas navegando o vento
(a corda longa esticada sobre o abismo)
e ao fundo, um imenso pântano
gemidos roucos e lamentos
Notícias sobre uma distante aurora
humano algum remotamente daria
decrépitas criaturas esperando a hora
uma vida inteira por apenas mais um dia
Girando e afundando-se quando se abriu o chão
cientes, então, de que volta não haveria mais
em círculos contínuos, descendentes e infinitos
perdidos, agora, ao olhar para trás
Armando-se de amor, o sentimento mais nobre
aos anjos carcereiros convenceria somente Beatrice
rompesse as mais fortes correntes como sabre
tornando-me ao mundo se ele ainda existisse