A Maçã



Fosse pela sensação
de percorrer
estas brancas curvas
vagarosamente
sem juízo

Morder sem muita força
a maçã que brilha
no escuro deste quarto aceso
e ver você se contorcendo
em formas e sons
incandescentes

Fosse pela paz e o desespero
que habitam juntos este mesmo peito
e a ansiedade  quando
em minhas mãos tomo seus cabelos
beijo teus seios
e o seu perfume me invade
e me leva a tantos lugares
que até perdi a conta

Por muito menos
rogaria a Deus que
levasse mais de mim
do que apenas uma costela
persistindo o sexto dia, então
como o mais sublime
de toda a criação

Fosse pela sorte
de poder vê-la ao meu lado
quando acordo
e chegar ao fim do dia
sabendo que estará à minha espera

Fosse pelas diferenças de opinião
diferentes visões de mundo
que não se igualam,
mas se entendem, amadurecem
e sobretudo se desarmam
porque sabem transigir
abrindo mão do que é desimportante
para que algo maior possa fluir

Eis que a vida não é sempre flores
mas é também pedra, tropeço e espinho
e sobretudo vida, e deve sempre
ser celebrada, elevada em gratidão
para com as estrelas

Por muito menos
rogaria a Deus que
levasse mais de mim
do que apenas uma costela

Fosse pelo poder maior de gerar
outra vida dentro de si
vida que é muito mais que a soma
das nossas próprias partes
e que se perpetua
por um tempo que não se
mede em anos
mas em brilho e intensidade

Por muito menos
rogaria a Deus que
levasse muito mais de mim