O que resta
Atrovoam presságios da guerra.
Generais e bombas a postos.
Pedaços de gente voando pelos ares.
Crianças, velhos, mulheres...
Ataca-se o homem, mata-se sua família,
Infertilizam suas terras para que não mais produza
A humanidade é o que resta sob os escombros.
E mesmo assim, contra tudo
Sempre haverá esperança
Porque o homem é um animal
que sonha
Havendo por cálculo ou acidente
a exacerbação incontida de todos os instintos
de morte, de vida, de gozo
E sabendo que ser homem significa, simultaneamente,
ser portador de uma tragédia e uma boa-nova
Haverá sempre aqueles que saberão rir de si mesmos
e superando o que há de ingênuo e perigoso
na simples natureza animal, persistirão na crença
necessária de que o homem deve ser algo além
E que mesmo que não se possa defini-lo ou
sequer tocá-lo com palavras,
a potencialização dos seus verdadeiros dons
sempre será uma missão a nortear as nossas melhores
expectativas sobre o mundo
Quando a opressão ao indivíduo
se tornar a única razão da existência do Estado
e sua voz não puder mais ser ouvida
e suas verdades deixarem de existir
para que o monstro sempre cresça
dominando todas as vontades
substituindo-as pela crença obtusa
de que sagrado é o dever
e a lealdade ao poder
Ainda haverá esperança
enquanto a subversão for a palavra,
alimentada por gesto e pensamento
contra qualquer ordem imposta
a vontade resiliente de dizer não
a tudo que não tem dignidade
Se os insanos ódios coletivos de uma forma ou de outra
tentarem impor suas determinações
e em vez de haver respeito, cordialidade e tolerância
houver somente usurpação, prepotência e pesadelo
As mãos que sabem acolher
e os braços que sabem aconchegar
assim como as bocas que, em vez de xingar
ou morder, saibam beijar e proferir palavras de alento
recriarão as possibilidades da vida
a partir de um novo meio, mais rico
e as gerações de outros humanos
artistas e mais espiritualizados
(em uma outra concepção do termo)
habitarão a nova era