Perspectivas ao crepúsculo
Andando em linha reta,
calçadão de pedras semi-retorcidas
forçadas toda vida na moldura do preto-e-branco
nesses desenhos desestéticos
que sempre têm mais cascas
do que recheio
Seguem prédios à minha esquerda
Segue praia à minha direita
As pessoas, o que as pessoas olham?
olham sempre à esquerda
entortam pescoços, viram-se para os prédios
dezenas de metros acima
até ficarem tontas
O que eu vejo?
Eu apenas vejo o mar
Essas águas espumantes
como um grande sal de frutas
verde jade numa jarra em movimento
que nunca se acaba
melhorado em sua beleza
quando o sol da tarde vem
para a última nadada
antes de se ir
O que as pessoas vêem?
olham os prédios, cada vez mais altos
cada vez mais imponentes
suas sombras caras sobre a areia
cada vez mais caras
cada vez menos areia
Segue a praia calma e barulhenta
ao meu lado, mexendo e espalhando
espuma branca sobre meus pés
um barquinho singrando ao longe
uma luzinha tremeluzindo ao longe
crianças de cabelos soltos
brincando felizes com suas
bolas coloridas
cavando túneis efêmeros na areia
e depois cobrindo tudo com patamares
de castelos que logo irão se derreter
absorvidos pelas ondas
O que as crianças vêem?
elas sempre vêem o mar,,,