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Mostrando postagens de abril, 2014

As palavras e as coisas

Se eu tivesse nascido poeta censuraria as rimas improváveis e mais tudo nessa vida que nunca chora quando vê o destino, por mero capricho, rimar beleza com tristeza torpeza com delicadeza e felicidade com crueldade Se eu tivesse nascido poeta não passaria tantas noites aflitas e insones atrás da melhor palavra para representar um sonho,  uma idéia, um espanto algo que me permitisse me aproximar mais da essência da própria vida as palavras simplesmente me deixariam um dia em paz por saber que a vida não é lugar nem pessoa nem no final não tem nenhuma porcaria de essência e só se permite a aproximação quando bem quer Se eu pudesse ter nascido poeta remediaria todos os males imaginários do mundo aqueles que o mundo sempre pensa que sofre como gente grande mas no fim não há mundo,  porque  não há sofrimento do mundo nem sequer há gente grande o que existe mesmo são pessoas, indivíduos, essas singulares criaturas que sofrem, que choram e que riem cada um por si só

As escadarias da Cidade Alta

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Sob as escadarias da Cidade Alta espreitam olhos acuados o momento em que um sol pontual se precipitará de vez no poente então sedentas criaturas aos poucos ganharão as ruas saindo de suas tocas invisíveis e desfilando no sereno sua fissura A visão  tremida dos passantes depurando em vão a amargura fumaça etérea, cachimbos vorazes cooptando as almas fugazes alimentando as promessas de cura Grunhidos simulam conversas aros de lata queimam no abismo o espírito embarca de boa o vapor entornando seus fluidos alma e corpo caminham insones sobre a  linha da vida divididos Kamikazes por mais um trago a substância inebriando os sentidos pela moeda que um dia foi corpo pela moeda que um dia já foi carro hoje apenas um espírito roto cuspido no chão como escarro Corpo moldado pela violência convulsando-se no limiar da noite para justificar-se a si mesmo sua existência onde termina a vida e aonde começa o açoite Incompreensão e despreparo do mundo-ao-redor n

Motivações

A filosofia sempre buscou a verdade mas o que eu pretendia mesmo era apenas a sombra suave das meias mentiras pois da poesia é que nasce a vida Enchendo os olhos de esperança é que se acorda despindo do sonho as vaidades vãs trocando a certeza da felicidade artificial pela pulsação incontida das manhãs Qual a força que o faria prosseguir? quem o tornaria novamente senhor de si mesmo depois de tanto tempo ouvindo as vozes depois de tanto tempo abandonado                            aos seus próprios elementos? Passeava novamente os dedos insones pelas páginas marcadas da estante mas não via consolo nesse momento as companhias de outro tempo evanesceram deixando um fino rastro de pólvora que alguém ainda não acendeu no seu encalço Atendia o telefone, mas o portal havia se fechado há pouco e a voz perdida para sempre do outro lado sequer pareceu ter existido enquanto uma nuvem de incertezas caía lentamente tornando obtusa sua razão mais uma vez