Se eu quiser falar com Deus




Sidarta, Cristo, Krishna, Maomé
personas universais,
a vida pela fé.

Sangue nobre, nobres intentos
intenções perdidas,
lamentos

As bênçãos da humanidade
à sua mais nova criação:
a língua mais imprópria
para se falar com um Deus.

Allah, Shiva, Brahma, Javé
figurações da mesma valsa
a morte pela fé.

Nirvana, paraíso,
armas, imolações
o gosto e o desgosto
pela fé.

Moral
verdades universais,
pecados originais
reencarnação
idade das trevas, fogueiras
dança das almas rumo à ilusão,
a língua mais imprópria
para se falar com um Deus.

Busca da certeza, quando a vida não nos dá
apego ao que flutua, o medo de afundar
quando o nada parece destino...
o lado de lá.
Homens em desatino
vagando sem se encontrar.
A língua mais imprópria
para se falar com um Deus.

O domo, a palavra, a vela, os castiçais
o rito , o hábito: serviçais.
Purgatório, êxtase, escrituras
pastores e ovelhas, rebanho, opressão,
o cego segue
sempre no comando, religião:
a língua mais imprópria
para se falar com um Deus.

Minha lida minha reza
Minha vida minha rosa
meus atos minha fé
meu Deus o de Spinoza.

Nascermos é sempre um milagre
vivermos, maior ainda
suprema bondade
suprema compaixão das estrelas
pois pequeninas são as chances.

Não há anjos
não há demônios
Somos só nós, pelas galáxias
E isso não é pouco.
Paraíso mesmo é este
mundo lindo e louco
imenso
repleto de deuses e de brilho
em tudo
repleto de vidas
únicas
singulares coloridas insubstituíveis vidas.

Vidas extraordinárias em sua plenitude
Este o maior presente
o maior legado possível de um Deus
Porque uma vida é sempre sagrada
e se eu quiser falar com Deus
não preciso pedir perdão
minha substância também é a sua
não há regra ou permissão
não há pecado
ou punição
basta eu me elevar,
voltar à minha própria natureza
e me tornar música,
a partícula do ser original