Resenha


O mais belo livro infantil desde "Alice", de Lewis Carrol

Ainda sobre os talentos da terra, este é o "Pandareco", de Casé Lontra Marques. Livro vencedor na categoria infanto-juvenil (autores já publicados) do prêmio de literatura Edital Secult/Funcultura 2015.
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Autor reconhecido, Casé possui diversas obras de poesia já publicadas, e temporariamente abriu mão de sua furiosa prosa poética para registrar toda a delicadeza, o espanto e a fugacidade do universo infantil sempre em reconstrução, porque é dessa contínua reelaboração que vive Pandareco, como criança que nunca chega ao final dos inventos porque a vida de um criador nunca tem fim e cada brincadeira é sempre um novo universo em expansão.

Publica-se como "infanto-juvenil", mas leia-se como pura arte, atemporal e contagiante como toda melhor estética, Arte que é atitude e pode servir como "cascudos" na cabeça de adultos que, ao crescer, se tornaram seres tristemente despandarequizados. Pois Pandareco é mais um lugar que uma coisa, mais uma sensação que um objeto, e muito mais a narrativa de uma possibilidade do que sua finita realização. Pandareco é abertura permanente ao "vir-a-ser", que para existir, precisa passar por alguma brincadeira.

Para ilustrar o texto inventivo que vai enriquecendo a aventura de ler com jogos, brincadeiras e charadas à medida em que se expande, o livro conta com projeto gráfico primoroso de William Shigetto. Se Hyeronimus Bosch usasse legendas, um leitor mais ousado poderia afirmar que
Pandareco, em sua proposta estética, é quase um "Bosch para Crianças", em seu universo fantástico e pelas possíveis realidades paralelas que são coladas e às vezes exibidas, às vezes não, em remoinhos de processos reflexivos-lúdicos para incentivar as aventuras de crianças arteiras pelo mundo afora. Porque sim, podem acreditar, Pandareco não nasceu para ficar por aqui. Vai ganhar o mundo, em breve. Para o bem do próprio mundo.

Sinestesia de flutuar entre o incrível mundo da "Alice", de Lewis Carrol, com um texto que lembra a delicadeza de Valter Hugo Mãe ao falar da infância, e sob cuja trilha sonora ouve-se ao fundo a música "Aquarela" de Toquinho. Casé alcança a magia de nos fazer reencontrar aquela criança especial que todos gostaríamos de ter sido em um passado talvez não tão remoto, antes de cedermos comodamente aos anestésicos incapacitantes da civilização.

O lançamento oficial do livro deve acontecer no dia 09 de agosto, no Palácio Anchieta, a partir das 19:00h, juntamente com os outros trabalhos contemplados pelo mesmo Edital.