Os mortos sem geladeira
a música agora é outra,
repleta de dissonâncias
porque na impávida vitrine
que albergava todas as ostentações
em imaculados painéis de neon
o tijolo cru da realidade
partiu a cara da unanimidade
em mil estilhaços
ensinando a quem não sabia ler
o novo alfabeto
o peito aberto, em sangue e ossos
legado à humanidade
emoldurando uma outra imagem
(pessoas acorrentadas e de joelhos)
em novos e fragmentados espelhos
e é nas grandes cidades quando cessa todo som
estanca-se as molas do sistema e suas engrenagens
que finalmente se ouve o que ninguém mais ouvia
uma antiga melodia tocada em nova balada
na noite calada, a bala direcionada
encomendada, pensada e bem calibrada
desintegrando as periferias
desmemoriando suas primas perdidas
que sempre guiaram nossos dias
a indústria da morte
impedida de completar seu ciclo
mata-ensacola-refrigera-recicla
mata-ensacola-refrigera-recicla
mata-ensacola-refrigera-recicla
o matadouro incansável e úmido
anônimos ensacolados para fazer número
numa guerra antiga só agora revelada
fazendo fila no chão do necrotério
como zumbis, às vésperas de sua apoteose
corpos preparados para o horário nobre
onde o rapaz fingindo preocupado
narrará uma outra história
e atribuirá às próprias vítimas em sua narrativa
as dívidas em vida de uma lida inglória
ressuscitarão por instantes
(nas estatísticas) esses jovens zumbis
enquanto o intervalo comercial não vem
humanos anônimos
desterrados sem memória
as mídias esvaziadas de sua história
perdendo-se na lama
entre poder e desdém
porque só descobri Matrix
quando tomei a pílula vermelha
e as redes que governam tudo
surgiram claras como o dia
esquemas, conchavos, a letra da morte
de uma certa idéia de justiça
relegada à própria sorte, e com ela
um caduco projeto de democracia
políticos parasitas às custas dela
e o mundo então, sorriu banguela
exibindo os mortos sem geladeira
de uma forma como eu nunca vi
empilhando-se em fila no horário nobre
para julgar e exterminar seus algozes
requisitando de volta suas vidas
numa grande apoteose zumbi
mas a mim, o que me cabe
se sou partícula ou sou elo
se me acalmo ou me desespero
e não vejo além do que me permite
essa cômoda cortina de fumaça
mas eu não mais me calo
quando todo silêncio manda
e quando todos dormem
é que eu mais falo
e faço a cama na varanda
porque decidi não sentir mais frio
do lado de fora da minha vida
e quando a tv mandar recolher
eu vou abraçar minha avenida
repleta de dissonâncias
porque na impávida vitrine
que albergava todas as ostentações
em imaculados painéis de neon
o tijolo cru da realidade
partiu a cara da unanimidade
em mil estilhaços
ensinando a quem não sabia ler
o novo alfabeto
o peito aberto, em sangue e ossos
legado à humanidade
emoldurando uma outra imagem
(pessoas acorrentadas e de joelhos)
em novos e fragmentados espelhos
e é nas grandes cidades quando cessa todo som
estanca-se as molas do sistema e suas engrenagens
que finalmente se ouve o que ninguém mais ouvia
uma antiga melodia tocada em nova balada
na noite calada, a bala direcionada
encomendada, pensada e bem calibrada
desintegrando as periferias
desmemoriando suas primas perdidas
que sempre guiaram nossos dias
a indústria da morte
impedida de completar seu ciclo
mata-ensacola-refrigera-recicla
mata-ensacola-refrigera-recicla
mata-ensacola-refrigera-recicla
o matadouro incansável e úmido
anônimos ensacolados para fazer número
numa guerra antiga só agora revelada
fazendo fila no chão do necrotério
como zumbis, às vésperas de sua apoteose
corpos preparados para o horário nobre
onde o rapaz fingindo preocupado
narrará uma outra história
e atribuirá às próprias vítimas em sua narrativa
as dívidas em vida de uma lida inglória
ressuscitarão por instantes
(nas estatísticas) esses jovens zumbis
enquanto o intervalo comercial não vem
humanos anônimos
desterrados sem memória
as mídias esvaziadas de sua história
perdendo-se na lama
entre poder e desdém
porque só descobri Matrix
quando tomei a pílula vermelha
e as redes que governam tudo
surgiram claras como o dia
esquemas, conchavos, a letra da morte
de uma certa idéia de justiça
relegada à própria sorte, e com ela
um caduco projeto de democracia
políticos parasitas às custas dela
e o mundo então, sorriu banguela
exibindo os mortos sem geladeira
de uma forma como eu nunca vi
empilhando-se em fila no horário nobre
para julgar e exterminar seus algozes
requisitando de volta suas vidas
numa grande apoteose zumbi
mas a mim, o que me cabe
se sou partícula ou sou elo
se me acalmo ou me desespero
e não vejo além do que me permite
essa cômoda cortina de fumaça
mas eu não mais me calo
quando todo silêncio manda
e quando todos dormem
é que eu mais falo
e faço a cama na varanda
porque decidi não sentir mais frio
do lado de fora da minha vida
e quando a tv mandar recolher
eu vou abraçar minha avenida