A Canção de Alex

(Dez filmes, dez poemas, série em homenagem ao cinema)

AMOR AO CINEMA

Dez filmes, dez rabiscos. Poemas em auto desafio propostos para prestar singela homenagem a essa grande arte do cinema por quem sou inteiramente apaixonado, e ao mesmo tempo divulgar bons filmes para quem ainda não conhece. Cinema é a própria vida, e não imaginaria um mundo possível sem ele.

Não há spoilers e o critério de escolha dos filmes não obedece nenhum padrão de crítica profissional ou qualquer rigor, apenas gosto pessoal, e é claro, o conteúdo do filme... que, de alguma forma, me marcou. Em alguns é a beleza, pura e simples, em outros o engajamento,nestes as fabulosas atuações impecáveis e nuns outros não é nada disso, apenas temas existenciais ou até mesmo histórias bobas que de alguma forma são tocantes para além de qualquer razão. Os poemas que me foram inspirados pelos filmes são apenas palavras soltas e despretensiosas ao correr da pena. Espero que gostem.

Começando o primeiro aqui, fazendo agora vinte anos, Beleza Roubada do Bertolluci. Beleza de filme, poesia em imagens, a melhor trilha sonora que até hoje vi num filme contemporâneo e uma história extremamente poética que sugere tamanha ingenuidade, mas que por trás é muito mais que isso. Elenco maravilhoso, Liv Tyler ainda menina, absolutamente linda, e Jeremy Irons , bom, o que dizer de um mestre, a não ser observar e aprender enquanto ele nos ensina sua grande arte?
 
 
 
 
A CANÇÃO DE ALEX
 


Letras rasgadas na veia do papel
palavras queimadas na poeira do vento
quem sabe assim, das cinzas postas
não voam os sentimentos
(finalmente livres) ao melhor destino?

Teu passado te reserva tantas dúvidas
O meu me esconde tragédias
Se não há esperança alguma ali na frente
do futuro que me resta farei presente
porque sim, por que não?

Lucy, você também sou eu
em outro tempo-espaço, outro instante
quem sabe não somos mundos paralelos

ensaiando outra encarnação?
Se a vida é essa gota angustiante
pingando lenta, com misturas, num tubo de soro
e o delírio que se absorve a cada respirada
(no abandonar-se à fruição que ela evoca)
a beleza está na respiração acelerada
no refluxo do coração
na taquicardia que ela provoca
e na expectativa roubada a cada pulso

Se o âmago do vinho que acende a noite
e a pressão enorme sobre o peito convulso
incensam leve na brasa inerme do cigarro
se o fim dos meus dias no peito doente
é só o expurgo amargo do negro catarro
e nessa conta exata prevista para acabar
a tristeza já não me abate e a dor
é o que me põe a sonhar

Assim como não cessa a busca

ao se encontrar a cura
e cada novo dia torna-se hoje mil

em dores, em prazeres, em incompletude
porque tua juventude é a minha juventude
tuas desmedidas atitudes diante da vida
o alimento das expectativas irreais
é a soma de todas as minhas inexperiências
Teu medo ingênuo de não esticar demais
o elástico tênue das possibilidades

jogando ao chão todas as vaidades
e estendendo ao limite um sopro aflito
o que conta feliz meu próprio corpo
numa breve canção de despedida
antes que se despedace no infinito