A PARTIDA


(Dez filmes, dez poemas, série em  homenagem ao cinema. Segundo filme : "O Sétimo Selo" , de Ingmar Bergman. Aquele que sempre considerei o maior cineasta. Este filme, em particular,  é para mim o que há de sagrado e referência maior, não apenas pela sublime arte da filmagem e da técnica que por si sós, em grande parte engendraram o cinema como nós o conhecemos, mas principalmente pelas extremamente corajosas questões existenciais propostas, coisa em que Bergman, por sinal, é ainda um dos maiores mestres. Existência e pranto, no eterno jogo entre o homem e a morte. 







A PARTIDA

 
Peão na quarta casa da Rainha
abertura clássica, nascimento
Bem-vindo à guerra!
Se fores habilidoso
um grande jogo te espera
e quem sabe em quantos lances
perpetuarás tuas próprias chances?

Quantos castelos destruirás
no afã da maior sede
quantos outros entregarás
cansado, desesperançoso
de escapar à grande rede

Aos ousados e pacientes, a Vitória
que como a morte inglória, é sempre
o começo de uma outra partida
Xeque! a meio caminho da vida
reúnas as torres, sacrifiques teus peões
atices tuas armas em vanguarda
com teus melhores cavaleiros

Absorvas os poderosos golpes
nos teus mais sólidos tijolos
(viver é absorver golpes
muito mais do que bater,
já diziam os experientes)
 
Mas teus bispos estão descrentes
e famintos os teus cavalos

[Uma rainha salvaria um reino?]

Cavalo pelo Bispo
na quinta casa do Rei
Xeque!

Perdestes um castelo
perdestes os cavaleiros
teus peões não te bastam
O tempo te acua, teu maior inimigo
quantas pedras ainda resistem
nos pés de tua última torre?

Xeque! (O mate te espreita)
Não és mais tão jovem
para todas as verdades
isolado e contemplativo
reensaias apenas no espírito
a luz perniciosa das jogadas que
fez em vão e o brilho tardio
do que nunca jogastes

Pois recua teu reinado
E proponhas um empate
E a vida terá sido um bom jogo
Em que ninguém jamais ganha

Mas com alguma sorte
Soubestes ludibriar  a morte
Pudestes contemplar a partida

Enquanto era vivida

 

(Claus Zimerer)