A luta (Cia. das letras)
"A luta" (Cia das letras)
Não foram poucos os autores que falaram (e bem) da mais clássica das modalidades de luta. Jack London tem um livro de contos inteiramente dedicado ao tema. Hemingway, não apenas aficionado, mas praticante, vivia falando com empolgação aqui e ali, assim como Nabokov e outros.
Conheço os trabalhos dos autores citados, mas nunca tinha lido nada intenso como este livro. O impressionante trabalho de Norman Mailer sobre a "luta do século", realizada na Africa, entre Mohammad Ali e George Foreman. Uma coisa, poderosa e rica, é a luta em si, e outra, sem dúvida alguma á altura do evento, foi o brilhante trabalho do "jornalismo literário" do genial Mailer, e a dinâmica de vida que ele acrescenta ao boxe como metáfora.
Nada escapa aos olhos de águia do escritor. As táticas de guerrilha da imprensa, para obter a sangue e fogo todos os detalhes e novidades cotidianas da luta, o contexto político mundial, com a luta sendo deslocada estrategicamente para uma nação fora dos EUA, a recentemente fundada República do Zaire, após sangrenta guerra civil, a pressão do stablishment branco americano sobre um mordido Ali, que bravamente se recusara à convocação para lutar no Vietnam. A tentativa da retomada da luta pelos valores americanos se infiltrando através do perfil conservador de Foreman, o pano de fundo delineado sobre o avanço da "força negra" contra o domínio branco, paradoxalmente representada no ringue por duas correntes antagônicas, mesmo tendo dois negros lutando. E sobre tudo isso, a África como matriz.
De fato, o esporte é uma das mais ricas metáforas da vida humana.
Recomendo fortíssimo, para os fãs do esporte, da vida ou da literatura. ;-)
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Abaixo, reproduzo um dos trechos marcantes, sobre os preparativos da luta, os aspectos psicológicos e o registro das notórias diferenças de personalidade e de estilo entre Ali e Foreman, onde o escritor, um dos mais respeitados pelo próprio mundo do boxe, agrega inúmeras observações cotidianas do evento, reúne o material de imprensa e exercita conjuntamente seu largo conhecimento sobre o assunto, partindo para a poesia do olhar, que não romantiza mas enriquece profundamente todo o contexto, exposto pelas belíssimas analogias que tanto enriqueceram o jornalismo literário dos anos 70-80.
Não foram poucos os autores que falaram (e bem) da mais clássica das modalidades de luta. Jack London tem um livro de contos inteiramente dedicado ao tema. Hemingway, não apenas aficionado, mas praticante, vivia falando com empolgação aqui e ali, assim como Nabokov e outros.
Conheço os trabalhos dos autores citados, mas nunca tinha lido nada intenso como este livro. O impressionante trabalho de Norman Mailer sobre a "luta do século", realizada na Africa, entre Mohammad Ali e George Foreman. Uma coisa, poderosa e rica, é a luta em si, e outra, sem dúvida alguma á altura do evento, foi o brilhante trabalho do "jornalismo literário" do genial Mailer, e a dinâmica de vida que ele acrescenta ao boxe como metáfora.
Nada escapa aos olhos de águia do escritor. As táticas de guerrilha da imprensa, para obter a sangue e fogo todos os detalhes e novidades cotidianas da luta, o contexto político mundial, com a luta sendo deslocada estrategicamente para uma nação fora dos EUA, a recentemente fundada República do Zaire, após sangrenta guerra civil, a pressão do stablishment branco americano sobre um mordido Ali, que bravamente se recusara à convocação para lutar no Vietnam. A tentativa da retomada da luta pelos valores americanos se infiltrando através do perfil conservador de Foreman, o pano de fundo delineado sobre o avanço da "força negra" contra o domínio branco, paradoxalmente representada no ringue por duas correntes antagônicas, mesmo tendo dois negros lutando. E sobre tudo isso, a África como matriz.
De fato, o esporte é uma das mais ricas metáforas da vida humana.
Recomendo fortíssimo, para os fãs do esporte, da vida ou da literatura. ;-)
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Abaixo, reproduzo um dos trechos marcantes, sobre os preparativos da luta, os aspectos psicológicos e o registro das notórias diferenças de personalidade e de estilo entre Ali e Foreman, onde o escritor, um dos mais respeitados pelo próprio mundo do boxe, agrega inúmeras observações cotidianas do evento, reúne o material de imprensa e exercita conjuntamente seu largo conhecimento sobre o assunto, partindo para a poesia do olhar, que não romantiza mas enriquece profundamente todo o contexto, exposto pelas belíssimas analogias que tanto enriqueceram o jornalismo literário dos anos 70-80.