Altered Carbon

 


O tempo fosse nada. nem qualquer força, nem qualquer coisa
com poder para se insinuar  além do simples sentido  cotidiano

Enquanto lá dentro, em algum lugar, silente, seguro,  poderoso e aguardando
repousa a memória em vida numa célula inviolável e protegida

Como se  um vórtice de experiências  e sensações acumulasse ininterruptamente
suas histórias não apenas de uma mas de todas as vidas pretéritas
transferíveis de capa em capa para outros corpos sucessivos

E nesse processo contínuo e ampliado, porque cada corpo é também emoção
condensada em carne, esse tipo de energia concreta e palpável, mas é também
capaz de, a cada vida,  sempre absorver mais, e de sempre ser mais do que a anterior

Cada corpo carregasse em si  também as experiências emocionais, desmaquinizando
toda a configuração planejada para si desde o seu nascimento, como forma de
desestruturar por dentro um sistema acostumado a reinar por máquinas

A intensidade de cada nova experiência, sob cada novo corpo, surpreendentemente
não seria talvez apenas a repetição de um tédio compreensível por repetir padrões
de vidas passadas?

Ou ao contrário, se a cada novo corpo, mantidas as memórias anteriores como
uma plêiade de tudo que se viveu, e ampliando-se esses sentimentos numa potente
parabólica, tudo isso retificado de tempos em tempos sob uma nova pele, conduzido
por um novo coração, novos braços, olhos e pernas poderosos reconduzindo seu passageiro
à experiência única e insubstituível de ser ele mesmo num estágio superior de vida?

A eternidade.