Descendo o morro

Descendo o morro
margeando o movimento
na levada dos tambores
Eu não escuto nada
esses sons me atravessam
enquanto as cores me avassalam

Sou um escravo dos meus olhos
extasiados em meio a tanto brilho
ando hipnótico, sem saber bem o ritmo
Copo grande na mão, que nunca para vazio
como se eu mesmo flutuasse em meio líquido
                                                                  amarelo
                                                                             gelado

a dois metros de um chão de espumas


Que linda, aquela menina
a mulata black power com o corpo pintado
dona de todo movimento
e o reflexo cristal moído sobre os seios sinuosos
A loirinha que ginga, meio sem jeito no samba
cintura fininha, fantasia mulher maravilha
confiando no laço da verdade

Não há outra linguagem aqui
onde as palavras perdem força
passos, requebrados
corpo completando espaços
de onde não tem som
síncope de carnaval batida
nos tímpanos abertos de um outro tom

Coisa bonita, isso
quem nasce ou morre no carnaval
pra sempre será feliz