Dia mundial da poesia
----
Desperdice poesia!! -- eu digo
(és poeta, afinal)
desperdice poesia
(sua, dos outros, não importa)
e sinta retornando ao sangue a energia
refazendo teu corpo
contaminando teu olhar
Que outro gesto o faria poeta
a não ser distribuir o que acumulastes
quando percebes passando por ti
quando percebes passando por ti
esse exagero de vida, essa coisa incontida
que tornará ao limbo se não se tornar primeiro palavra?
Desperdice poesia! repito...
com força e atitude,
(quiçá alguma generosidade)
em papéis-cartão boiando à luz do rio
ou em oferendas às ondas do mar
ou em oferendas às ondas do mar
em pedacinhos de jornal ou recortes sem rumo
ou cartas jamais correspondidas que se perderão
(anônimas e gloriosas)
Desperdice poesia
em cartazes, em muros, no chão das ruas de concreto
como a abelha que produz o mel em excesso,
e a ela de nada serve depois de pronto
Jogue fora
como da fonte jorra
incontida a água fresca e infinita
e viva mais intensamente através delas
momentos de percepções muito mais ricas,
muito mais bonitas
Porque é em nós e não nas coisas
que reside a beleza
que reside a beleza
derrame tuas palavras, por simples proeza
desse cântaro mágico que de onde tanto mais se tira
mais se tem
Quem sabe assim a beleza
que tantas vezes só existe mesmo é no verso
o sacuda sem ninguém impedir
(porque é a única cor que é intensamente tua neste universo)
entornando ébria na tua taça
aquilo que a vida --essa coisa tão simplória e limitada,
aquilo que a vida --essa coisa tão simplória e limitada,
tão distante da felicidade exposta em propagandas de cerveja
jamais lhe dará por outro meio,
a não ser através daquelas bem conhecidas e banais ilusões
Desperdice poesia! sempre que puder...
e sem modéstia...
Desperdice poesia! sempre que puder...
e sem modéstia...