Uma canção para Stephen

Numa casca de noz
o universo inteiro
A coragem, Stephen
de não ter sido o primeiro
(mas sem dúvida
o mais ousado)

Quem teria continuado
à luz do vulgo juízo
essa tua tarefa tão árdua --
sob tão precárias condições
Antes de ti
apenas grandes espíritos tentaram
com seus imensos corações

Copérnico, Bruno, Galileu

Newton, Einstein, Sagan

Monstros sagrados
apenas eles comparados a ti
em suas metas inabaláveis
Mas nenhum deles
carregando tamanho peso
em existir
Nessa casca frágil
alquebrada
A alma leve e ágil
da mesma criança levada

Qual o teu maior pesadelo
enquanto teu corpo se ressentia
do enigma que o fez?
Qual o teu maior desgosto
quando tudo se tornava menor
ao seu redor
Qual o teu segredo para
manter-se por dentro gigante
sem recorrer às mesmas
e velhas desculpas?

Pois se, dentre todos os outros
que aboliram sua própria culpa
Tu, entre os demais, assumistes
desde sempre o abandono
de tudo que é humano
Lançastes a ti mesmo
nesse vôo sem rumo
Pelo prazer e pela coragem
de estar vivo

Qual a tua maior motivação
para achar a tão sonhada equação?
Qual a tua justificativa, ao final
por saber que a equação não existe
e que a vida será é sempre foi
esse mistério insondável
belo e às vezes triste
que dorme inabalável
no travesseiro do tempo?

Perdidos a olhar  noites sem nuvens
aonde apontávamos o desconhecido
(bem ali onde tu reconhecestes tua casa)

Aonde dizíamos medo
tu dissestes aventura
Aonde perdemos um elo
encontrastes miríades
de universos paralelos

Aonde imaginávamos terror
tu reconhecestes a gênese
do infinito amor
nos braços acolhedores
de um incriado criador?

Sabias, como poucos
que a justificativa da vida
não é não pode ser
o fim a que se destina
mas os meios em
que ela se aglutina

E que ao final a maior pergunta a fazer

Era na verdade o como
e não o por quê








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Em memória de Stephen Hawking (1942-2018)