Raiz
eu também estava lá
(de alguma forma)
fosse pelos genes, em vontade
em espírito
Eu estava lá
quando a humanidade se criou
simples, assim
debaixo de uma grande árvore
pessoas reunidas
Familias inteiras
avós e avôs, pais e mães, tios
amigos e um punhado de crianças
de todas as idades
Eu estava lá
e bebi o sumo da terra amada
provei da caça abençoada
oferecida a todos os deuses
de um imenso pavilhão
Bebi do mesmo vinho
oferecido, em cântaros
a toda libação
E nossa relação
com as árvores, com a terra,
com os animais que nos serviam
de alimento
Era algo entre irmãos
Porque sabíamos que no ciclo
contínuo de vida, morte, ressurreição
não havia morte, na verdade,
mas sim uma perpétua reconstrução
hoje sou teu alimento, amanhã
serás o meu
Todos dentro da mesma energia
abrigados em seus largos troncos
contra as ventanias
e os maiores medos que investem
silenciosamente
dentro da longa noite escura
Eu estava lá, e testemunhei
a possibilidade de eu existir
e ter um sentido, uma história
e um lugar qualquer no mundo
porque havia outros de mim
e que ao me atribuírem um sentido
é que passei a ter um nome
e a representar algum sentido
Naquele momento, naquele lugar
o pertencimento, o vínculo, um
tipo estranho de união
era a única razão por que nos
encontrávamos ali
eu também era um pouco terra
meu peito era um pouco árvore
minhas mãos um pouco tuas
minha voz um pouco deles
meus gestos algo que ainda
não era só meu
E foi apenas deixando de ser eu
que através do nós eu pude
saber um pouco mais de mim