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Mostrando postagens de agosto, 2018

Rastro

A escadaria De dia, o campo aberto de nossas excelências que desfilam , cenhos fechados Grandes questões do mundo para decidir os carros brilhantes, o comércio                              dotô pra cá, dotô pra lá De noite, puteiro- cracolândia o mercado das carnes em promoção pedra a dez real tem de cinco tem de dois sexo a trinta amor por duas pedras "aceitamos  qualquer moeda:                                    até cartão" as marcas de sangue com pegadas no chão na descida da esquina mais conhecida pés de homem, coisa de ontem pelo tamanho, pelo tempo seguindo com um bordo de havaianas rodeado de vermelho muito escuro e denso (sangue arterial) um esfaqueamento um tiro um acidente? na porta da casa rosada onde sobem os marinheiros com a bagagem do mundo e de onde descem  aliviados no espaço enorme de uns quarenta metros de calçada nova, cidadã margens de pastilhas vermelhas centro de cimento clarinho os passos , de início

O sangue

para Lorenzo ---- Você com a sua calma o equilíbrio o segredo de manter sob esses olhos por duas décadas a inquietude dos seus poucos anos em sintonia com a própria vida A arte de ser filho e não sucumbir aos pais sejam eles terríveis sejam os mais amorosos Tão diferente de mim mesmo na mesma idade quando a ansiedade me governava o peito as angústias me desfazendo os dias e por dentro uma certa agonia o monstro sem nome que já insistia em se criar O excesso de âmago o excesso de fôlego o excesso de ver o excesso de imaginar e não sabe como expressar Combustível certo para implosões A casca tornando-se em algum momento mais grossa porque havia a necessidade real ou inventada de se preservar para não sucumbir à beleza do mundo à violência do viver As crises, a rebeldia a impossibilidade de uma fala que sinalizasse tradução dos estados de ânimo permanentemente Sentidos desalentados em idade tão precoce Vejo sua vida tão harmônica tão pra

A CRIATURA

Atentado, aquele moleque crem-deus-pai! meio bicho, meio índio meio rio, meio floresta com os pés descalços sempre fincados na terra abraçando árvores sozinho (o espírito suspenso) entre a mata e o chão falando com os cavalos ativo e arteiro como o cão pegava passarim no alçapão depois soltava tudo porque lugar de passarim é no alto, bem alto mais alto colecionava bolas de gudes (gudes semelhavam lágrimas congeladas  que olhadas de bem perto revelavam em seu cristal denso de vidro azul, verde líquido pequenas vias lácteas em miniatura, o outro-lado-de-lá-de-tudo --gudes eram portais ?) enrodilhava-se pelos piões apaixonava-se pelas pipas fugia das multidões administrava estilingues e plantações de mamona investigava formigas (mesmo as sem cabeça) espetava tanajuras botava-se bonito pra missa de domingo cabelo partido ao meio sapato com meia e camisa passada a mão levantava a saia das garotas escrevia-lhes rabiscos de amor que depois nunca enviava mor